sábado, 13 de dezembro de 2008

Reminiscências


Era um pouco mais novo que o Bentinho menino, do começo de Dom Casmurro, quando li-o pela primeira vez. Detestei. Confessando isto, não tenho como não citar passagem do livro no Capítulo XVIII: "Ao relembrá-las não me acho ridículo, a adolescência e a infância, não são, nestes pontos ridículas; é um dos seus privilégios". Tive sorte, ao menos aqui, Bentinho permaneceu o mesmo garoto tolo e caprichoso até a velhice. Escuso-me a dizer que sou uma pessoa melhor em pespectiva, tornei-me mais cético, mais amargurado, mais recluso, em suma mais maduro. Aos 18 anos, sem compromisso, reli o Dom Casmurro, e fiquei maravilhado, principalmente pelo texto, que só então notei, hilário, e a cada vez mais engraçado em toda nova empreitada. Hoje me divirto na hipótese que no futuro tenha que engolir as palavras que escrevo, comentando a adaptação de Luís Fernando Carvalho, Capitu que acabou semana passada.
Caro leitor, desconfie de quem tenta modernizar qualquer clássico. Um cânone como tal é irretocável, não precisa desses escapismos. Não é que sejam desprovidos de falhas, ou lacunas; n'O Processo de Kafka, o Capítulo VIII está inacabado e assim ficou; e por mais esdrúxulo que seja para quem não leu, o resultado é de absoluta coesão. A manobra tem menos a ver com tornar mais acessível o autor, e sim para facilitar o trabalho do adaptador.
Menciono duas, na expressão da moda, reimaginações, não embusteiras, envolvendo o cânone dos cânones, Shakespeare. Uma delas seguramente a melhor versão já feita. Ricardo III (1995) de Richard Loncraine na direção e Sir Ian McKelley no papel título. Ação é transposta do final da Guerras das Rosas do século XV, para o XX década de 30. O simbolo estilizado do javali, as fardas negras do exército e apoiadores do Rei (lembrando as da SS nazista e os camisas negras da Itália facista), ao som de clássicos das big bands são espetaculares. Soluções como do monólogo inicial da peça (precedido de um prólogo eletrizante), um discurso transmitido à nação do baile de comemoração pelo fim da guerra civil, a ardilosa sedução de Lady Anne acontecendo no necrotério, maravilhosas.
Parafraseando o grande crítico de arte, Giulio Carlo Argan, Hamlet (1996) de Kenneth Branagh é um anti-clássico clássico, pela opção conservadora de usar o texto integral, o resultado é um filme de quatro horas. Existe uma versão editada para duas horas e meia, quem conhece as duas é unânime é apontar a maior como favorita, não só pelo óbvio do desenrolar da trama, mas também por ser mais agradável, não se sente o tempo passar. O cenário muda da recorrente tarcituna corte dinamarquesa na Idade Média, para um luxuoso e iluminado Elsinore, que poderia situar-se no pós-guerras napoleônicas. Além disso o castelo é repleto de espelhos, como se na tentativa que nada há de se esconder no reino; mais, os espelhos são entradas para as passagens secretas.

A mais acertada das escolhas de Luís Fernando Carvalho foi nas partes pinçadas para a mini-série, usar o texto original, sem enxertos, cenas adicionais e/ou explicativas. Colateral, o passo seguinte foi a recusa dum relato naturalista, optando pelo teatral; ironia fina, Machado de Assis é formalmente o introdutor da escola Realista no país (e por Memórias Póstumas de Brás Cubas, quem o leu, acha ainda mais graça do chiste), como falei acima, poupa o diretor de procurar saídas, todas no final, insastifatórias.
Decisões corretas, mas dada a complexidade da obra, se anda no fio da navalha, e várias vezes perdeu-se o siso. A caracterização de Bentinho idoso/narrador é carregadíssima, a postura curvada e encolhida, o tom de voz grave, enervava. Além do ridículo dos bigodes pintados com lápis preto, o personagem deve trazer um tom ridículo, só que, no fim, ficava o estúpido. Outros personagens pelo mesmo motivo estão apatetados como Tio Cosme e Prima Justina, caricaturas toscas. Quem acertou o tom foi Antônio Karnewale que casou de ter no agregado José Dias, com suas afetações, amor pelo superlativos, "no seu modo de dar uma feição monumental às idéias", todo excesso não apenas perdoado, e sim jocosamente insuficiente.
Uma coleção de ninharias, mas pelo volume maculam. Bentinho e Capitu, já casados saem para um passeio e toca Mercedes-Benz de Janis Joplin, num baile o casal antes da dança colocam os fones brancos de IPods. Um dos capítulos que mais gosto, o VI (O administrador interino) donde se extrai: "Viveu assim vinte dois meses na suposição de uma eterna interinidade" (obs.: grifo meu); é arruinada por um pedante Cheek to Cheek de Cole Porter.
Entretanto a mesma Cheek to Cheek funcionou ao ser executada na comovente cena da morte de José Dias. Outra: dona Maria da Glória sendo vestida ao som de God Save The Queen dos Sex Pistols, perfeito! Retrata uma ordem decrépita, porém poderosa, o fecho de ouro, troca-se os pajens andróginos e pálidos; o cortejo que acompanha a dama são mucamas com vistosos turbantes africanos. Ápice, a primeira entrada de Escobar com uma coreografia vigorosa ,acompanhando Iron Man do Black Sabbath.
Não tenho problemas com narrativas não-lineares (admiro David Lynch, e sim, gostei de Império dos Sonhos), enxurradas de conteúdo, ações e dados acontecendo ao mesmo tempo (O Livro de Cabeceira de Peter Greenaway é um dos melhores filmes que vi na vida), e cenários que exigem esforço da audiência (como Dogville e Manderlay). O nó górdio é quando tudo isso é por dissimulação, sem uma idéia de lastro. Tanto assim que apenas no último episódio alcançou o sublime. As "inovações" até diminuiram, mas agora são elegantes; no Capítulo CXXXV, Bentinho assiste Otelo, o Mouro de Veneza, no teatro, não a peça, o filme de Orson Wells , repentindo incessantemente a cena do assassinato de Desdêmona. Bentinho adulto e recém-casado com Capitu continua impostado, mas sem a mão-pesada (e sem bigodinho pintado à lápis). Neste dia a mais impressionante das cenas, o enterro de Escobar, cenário de um fundo branco, alvíssimo e infinito o cortejo se aproxima do féretro todos vestidos de negro. Ao final, Michel Melamed grandioso, na sequência quando Bentinho faz um discurso, o impacto do turbilhão de emoções, a dor pela morte do amigo, vergonha pela situação de expor-se, a dúvida se a mulher o traiu, a confusão tentando decidir que está sofrendo mais se a "suposta amante" de Escobar ou Sancha e o patético quando rasga o discurso e atira os pedaços no túmulo. Genial!
Um último desleixo ficou. Ezequiel visita o pai após a morte da mãe, no livro temos apenas o relato de Bentinho, e como ele reiteradas vezes diz, não é narrador confiável, ao vê-lo afirma, "Era o próprio, o exato, o verdadeiro Escobar. (...). Era o filho de seu pai". No livro fica a sutileza, na série o garoto era cuspido e escarrado o morto, importante os dois papéis não foram interpretados pelo mesmo ator. Ora, porque não aí fazer o ator usar uma máscara com a cara de Escobar. É legítimo deixar claro que a impressão é enviesada, do jeito que ficou, Capitu era mesmo uma rameira.
Carvalho no aspecto técnico é irrepreensível fotografia, iluminação, edição deveriam servir de referência para os novatos, o figurino é luxuoso. Mostra o tino para escolher protagonistas mulheres como já tinha feito com Simone Spoladore em Lavoura Arcaica (2001). A revelação, Letícia Persiles numa Capitu jovem, encantadora, vibrante, e Maria Fernanda Cândido (trívia: ela já esteve noutra adaptação de Dom Casmurro, e no mesmo papel, o pavoroso filme Dom, de Moacyr Góes), na agora mulher segura e elegante, a antítese de Bentinho, que não tem energia para nada. Capitu é a força motriz da trama, enquanto a teve ao lado ele teve uma vida, sem ela vai murchando. O verdadeiro mistério não é se ele traiu o marido com Escobar, é o que atraiu em Bentinho. Quem acredita que a resposta é a simples ascensão social, é tão vazio e vulgar quanto seus acusadores, coisa que Capitu não é.
Duas cenas de puro deslumbre:




A poesia só merece o nome quando é capaz de gelar o corpo que a lê.

Uma palavra se abre
Como um sabre -
Pode ferir homens armados
Com sílabas de farpa
Depois se cala -
Mas onde ela caiu
Quem se salvou dirá
No dia de desfile
Que algum Irmão de armas
Parou de respirar.
___

Não sou Ninguém! Quem é
você?
Ninguém - Também?
Então somos um par?
Não conte! Podem espalhar!
Que triste - ser - Alguém!
Que pública - a Fama -
Dizer seu nome - como a Rã -
Para as almas da Lama!
___

Sépala, pétala e um espinho -
Nesta manhã radiosa -
Gota de orvalho - Abelhas -
Brisa -
Folhas em remoinho -
Sou uma rosa!
___
1830 - 1886

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Madeleine, Madeleine, Madeleine...

Jô Soares hoje é um zumbi, nada mais apropriado que esteja perdido, assombrando na madrugada. Como todo morto-vivo ele está atrás de miolos, comeu os dele primeiro e agora parte para devorar os nossos. Isso explica o porquê de tão preguiçoso, faz as chamadas do seu programa sentado, na introdução, praticamente limita-se a ler algo engraçadinho das correntes na internet, muito diferente quando fazia um legítimo e inspirado stand-up, repete as mesmas piadas e brincadeiras com o sexteto e o garçom, e nas entrevistas não parece se dar ao trabalho de pesquisar o convidado, passando a sensação de "vamos ver no que vai dar". E aquele elevador no cenário, serve para quê mesmo? Até fico feliz quando chega o horário de verão, durante o período o Programa do Jô termina uma hora mais cedo, e com sorte o Intercine programou um filme legal (e não tão porcamente cortado).
A salvação é quando aparece uma atração fora do padrão (não ajuda também a produção em sintonia como o chefe, agendado com tanta gente mixuruca). Tive uma surpresa ontem quando percebi que o programa ontem seria assim, e foi bem fortuito mesmo; pensava em dormir depois do Jornal da Globo e esperei, meio enfadado para ver quem estaria lá. E logo no começo abri um baita sorriso, era a fabulosa Madeleine Peyroux!!
Era só correr para o abraço, só que claro, abusaram da minha paciência, tive que atravessar dois blocos com uma entrevista qualquer nota com Andreia Beltrão junto a um moleque sem graça, divulgando um filme que ninguém vai ver. O gordo, no melhor estilo do seu ex-patrão, Sílvio Santos, constrangeu o coitado do menino, sem que ele percebesse. É capaz de se lembrar agradecido daquele momento.
Já com Madeleine perdeu-se um tempo enorme, e sem motivo, discutindo a eleição de Barack Obama nos EUA, noutro momento Jô Soares perguntou sobre influências de músicos ativistas no trabalho de Peyroux. Foi desconcertante pois ela não tem uma militância ativa e nem em suas canções percebe-se algo do tipo, na verdade é até bem reservada. Uma história divertida é que sua gravadora contratou um detetive particular para encontrá-la, pois ela tinha sumido na época da divulgação dum disco.
O que salvou a noite, foi Madeleine Peyroux, tímida mas simpática, com canjas de suas músicas. Em homenagem a ela, posto alguns vídeos das minhas canções favoritas. Para o leitor deste blog, que acha mais importante os posicionamentos políticos dela, o signatário informa que ela votou, pelo correio, em Obama, e está muito feliz por sua vitória.
Between the Bars:


Dance Me to The End of Love:


La Javainese:

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Bombons com fel


Tenho uma brincadeira, um tanto cruel, com casais de amigos quando o nível de sacarina alcança níveis perigosos. Qualquer conversa comigo naturalmente se encaminha para cinema, encorajo então falarmos de comédias românticas, espero que digam seus filmes favoritos, na minha vez, declaro que Closer - Perto Demais é o filme sobre relacionamentos mais engraçado que já vi. Um tanto atordoados, eles aceitam a provocação, afinal em Closer temos mais diálogos espirituosos, e sim, é mais divertido que muitas das xaropadas que fazem sucesso por aí.
Na madrugada de domingo para segunda desta semana, por um feliz acaso acabei assistindo uma pequena gema cinematográfica de mesma lavra, Mentiras Sinceras. É dirigido e roteirizado por Jullian Fellowes, ganhador do Oscar de Roteiro Original por Assassinato Em Gosford Park. Se neste último ele oferece um estudo das classes da sociedade inglesa, desta vez ele ajusta as objetivas para um ambiente mais nuclear, o do casamento.
É um filme de atores, e o trio principal entrega performances magníficas, a começar por um de quem sou fã e já falei anteriormente aqui, Tom Wilkinson, acompanhado de Emily Watson, e Rupert Everett. Wilkinson e Watson, formam um casal bem-sucedido de Londres, uma boa casa no campo, tudo conforme o figurino, até o dia em que um elemento pertuba o acordo tácito de tranquilidade dos dois, Bill Bule (Rupert Everett), filho de um dos membros da aristocracia do interior inglês. Estou deliberadamente evitando dar mais detalhes sobre a trama, e peço ao leitor deste blog que faça a temeridade de dar um voto de confiança ao signatário, uma vez decidido a procurar o DVD na locadora, não leia a resenha. Predisponho-me a ser alugado por todo aquele que se sentiu logrado no fim das contas.
Explicada a razão do meu contorcionismo, permito-me a falar do momento final de uma cena primorosa, Anne Manning (Emily Watson), desabafa para o marido James (Tom Wilkinson), "eu não sei mais o que fazer, falhei em todos os testes que você me fez, e continuarei falhando naqueles que virão, e você sabe disso, por que continua me testando então", ele responde desolado, "eu não sei...". Outro acerto é a escolha do estilo de interpretação de Rupert Everett, seu personagem não faz a menor tentativa de estabelecer empatia com ninguém, muito menos com o espectador, a não ser num pedido gentil em sua última aparição. Torna o história mais poderosa e dá mote para outra sequência tocante.


O final de Mentiras Sinceras também me fez lembrar de outro ótimo filme (além do supra-citado Closer): O Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças, tanto porque numa forma muito particular, e mantendo uma coerência com as escolhas e estado emocional dos personagens, há um final, por assim dizer, feliz; e a mensagem final de sempre nos surpreendemos cometendo os mesmos e patéticos erros, tal entendimento nos traz menos conforto do que consolo, mas é algo plenamente humano, muito humano.
Peço desculpas mas não encontrei um trailer com boa qualidade de imagem e nem legendado em português, eis logo abaixo:


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Unusual

O signatário deste blog é um mal leitor de poesia, é um tanto surpreendente quando faz esta revelação entre seus conhecidos, que presenciaram várias manifestação do seu amor aos livros. As razões para tal merecem ser exploradas, mas não agora.
Por isso, constrangido confesso uma solene ignorância da obra de Nelson Ascher, gente gabaritada o tem como um dos grandes poetas brasileiros da atualidade, repasso o alto conceito, mas lembrando que não é meu. Tenho sim, muita admiração pelo ensaísta, que até alguns meses ocupava a PENSATA na segunda-feira da ILUSTRADA, caderno de cultura da FOLHA DE SÃO PAULO. Sentimento que só cresce a cada novo texto de seu substituto, Luís Felipe Pondé, comparar os textos de um e outro é como comparar a luz de uma lanterna e a do sol.
Minha, também é a inveja por Ascher ser tradutor de várias línguas; das corriqueiras, inglês, francês, italiano; as clássicas, latim e grego antigo; e mesmo exóticas como as eslavas. Sempre tive fascínio por esse personagem que é o tradutor, a erudição requerida, a sensibilidade para absorver a obra, a escolha das palavras, a tessitura do conjunto no trabalho finalizado.
O poema abaixo ficou conhecido por ser lido numa bela cena de Quatro Casamentos E Um Funeral, não acredito que exista alguém estúpido o bastante, mesmo que tenha visto só uma vez e há muito tempo não lembre quando, mas nas primeiras linhas até quem não conhece o filme saberá o momento em que foi declamado ( o que em idioma nerdês afetado é chamado de spoiler).
Nelson Ascher já tinha uma versão anterior na época do lançamento do filme, só que confessa que a realizou em poucas horas, agora tem-se uma versão nas suas palavras, mais cuidadosa. Numa googlada encontrei a primeira e posto depois a nova. Façam suas escolhas!

Funeral Blues - W. H. Auden

Stop all the clocks, cut off the telephone,

prevent the dog from barking with a juicy bone,

silence the pianos and, with muffled drums,

bring out the coffin, let the mourners come.

Let airplanes circle moaning overhead

scribbling on the sky the message: he’s dead.

Put crepe-bows round the white necks of the public doves,

let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,

my working week, my Sunday rest,

my noon, my midnight, my talk, my song.

I thought that love would last forever; I was wrong.

The stars are not wanted now, put out every one.

Pack up the moon, dismantle the sun.

Pull away the ocean and sweep up the wood.

For nothing now can ever come to any good.

Tradução de 1994.

Funeral Blues - W. H. Auden

Que parem os relógios, cale o telefone,
jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,
que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do caixão com seu cortejo atrás

Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto – um laço no pescoço
e os guardas usem finas luvas cor-de-breu

Era meu Norte, Sul, Leste, Oeste, enquanto
viveu, meus dias úteis, meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana

É hora de apagar estrelas – são molestas,
guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.

Tradução de 2008.

Blues Fúnebres - W. H. Auden

Detenham-se os relógios, cale o telefone,

jogue-se um osso para o cão não ladrar mais,

façam silêncio os pianos e o tambor sancione

o féretro que sai com seu cortejo atrás.

Aviões acima, circulando em alvoroço,

escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.

Pombas de luto ostentem crepe no pescoço

e os guardas ponham luvas negras como breu.

Ele era norte, sul, leste, oeste meus e tanto

meus dias úteis quanto o meu fim-de-semana,

meu meio-dia, meia-noite, fala e canto.

Julguei o amor eterno: quem o faz se engana.

Apaguem as estrelas: já nenhuma presta.

Guardem a lua; e o sol também foi o bastante.

Recolham logo o oceano e varram a floresta.

Pois tudo mais acabará mal de hoje em diante.


Atualizando:
Pensando neste post, o signatário do blog notou um desleixo, por que não incluir a cena onde é lido Funeral Blues em Quatro Casamentos E Um Funeral? Para compensar tal negligência, procurei um vídeo que tivesse legendas em português. Ei-lo.

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Now playing: Leonard Cohen - Ain't No Cure For Love
via FoxyTunes

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O mestre grilo responde

Pergunta do pupilo em vermelho:
E aí "Master of the nerds", concorda com este post? http://hitnarede.com/2008/11/shit-happens-musica-boa-clipe-ruim/

Respondo em azul:
Jovem gafanhoto (gosto da analogia, ainda mais que, na ponta do lápis, você é mais velho que eu), minha opinião é esta: acho uma asneira.
Penso que espera mais que uma sentença seca, se estou enganado, não precisa ler/ver o que segue. Repito a resposta acima só que mais elaborada.
Primeiro ponto, é polêmica vazia, e pior, vazia e preguiçosa, o sujeito só elencou 3 VÍDEOS para sua tese. Escrever um texto divertido exige esforço e bagagem cultural. Para comparação veja 2 listas que li recentemente (infelizmente, ambas em inglês), 18 cenas difíceis de ver, e os 50 maiores vilões da literatura. Neste último, poder-se-ia dizer que a escolha do primeiro lugar é óbvia, mas a fonte pinçada, revela a classe da seleção; enquanto na primeira lista, levou-se em conta não apenas a violência, mas o absurdo também, como a esnobada de Hugh Grant dá em Julia Roberts em Nothing Hill.
Segundo: para Cler Oliveira, uma música boa, dificilmente terá um clip bom, até é razoável a conclusão, só que o contexto correto é, mais raro ainda será que uma música ruim consiga um clip digno. E o conceito dele para música legal é para lá de largo, não? Take That!? Bon Jovi!!??
O U2 entrou na roda. Aí temos uma divergência frontal, para começo de conversa acho as capas do grupo muito acima da média, as de Achtung Baby! e Zooropa são espetaculares, se prestar atenção, é possível rastrear as influências dos álbuns pela arte estampada.


Não morro de amores pela a de All That You Can't Leave Behind, lembra mais um anúncio de revista do tipo Variety, mas é de inegável bom gosto!


Começando a falar sobre videoclips, na mesma linha de Stuck In A Moment (o qual gosto, registre-se), o clip com "lirismo" e "mensagem", o belo Walk On:


Que tal este em que Mary J. Blige canta One, acompanhada dos irlandeses. Ela e a banda, tocando num palco, filmado em preto-e-branco. Não precisa de mais nada!


E quanto a Window In The Skies, onde (mal) aparecem integrados na multidão, é absolutamente certeira na empatia com qualquer um que já se emocionou com música, qualquer música, e venhamos e convenhamos, juntando David Bowie, Frank Zappa, Vladimir Horowitz, Nat King Cole, Frank Sinatra, não tem como dar errado.


Nada mal para quem só dá bola fora, na ótica do Cler Oliveira.
E qual o problema como clip com historinha? Irreplaceable da Beyoncé leva zero em criatividade, e daí? Continua muito divertido.


O mesmo vale por exemplo, com James Morrison em Wonderful World.


O arremate final é com o Duo do qual nunca ouvi uma música ruim, e clip meia-boca, THE WHITE STRIPES.
Conquest:


Fell In Love With A Girl:


Concluindo com a soberba, Seven Nation Army:

sábado, 1 de novembro de 2008

Como o Dr. House tornou minha vida senão menos miserável, mais divertida: CENA I

-Tu não vai se aprontar para o aniversário do G.?
-Eu não vou.
-Como não vai? Por quê?
-Ele não me mandou o convite.
-O G. só tem um ano.
-E também não vai se incomodar se eu não for.
-Mas tu tem que ir...
-Por quê?
-Toda comida daqui foi mandada para a festa, e a C. vai ficar magoada...
-Então: ela ficaria menos insultada se eu aparecesse lá apenas para comer, do que se eu simplesmente não ir?
[suspiro]-Eu trago um pratinho mais tarde.
-Acho bom. Mas não precisa ser logo, não quero que você perca nada dessa festa.
-Idiota!!

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Now playing: The White Stripes - The Hardest Button to Button
via FoxyTunes

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Uma nova frente de trabalho (hehe!) na internet (Bwahahahahaha!!)

Este blog me faz sentir como Grady Tripp, personagem de Michael Douglas em Garotos Incríveis (Wonder Boys, Estados Unidos, 2000). Ele está há dez anos escrevendo um livro, que já tem mais de duas mil páginas e sem vislumbrar um final. Tenho vários posts que vão se acumulando no arquivo, que não sabendo bem como fechá-los, aliado a compulsivas revisões acabam encostados. Um deles me assombra a uma semana e meia, fala sobre as eleições de agora no final de semana, mas sempre estou reescrevendo, juntando novos fatos e sabe-se lá quando ele verá a luz do dia, embora deva fazer um esforço concentrado para fechá-lo até sexta próxima.
Curioso é que não estou exatamente decepcionado com o blog, imaginar os posts, edita-los, jogar-los fora, começar de novo me vem ajudando enormemente a raciocionar melhor, organizar idéias, ser um prepotente arrogante um pouco menos pedante, com alguma fração de pensamento que se salva.
O que se perde é a sacada, o mote, o tempo da piada, como as charges que tem uma urgência e precisam ser divulgadas no calor da hora, nesse sentimento é que decidi criar uma conta no Twitter. A desencanação do "o que você está fazendo" em 140 caracteres me anima, já que sempre fui fã de mestres do aforismo (e da ironia) como Voltaire, Oscar Wilde e H. L. Mencken.
A busca por um texto inteligente e bem humorado continua, mas enquanto neste espaço tentarei resgatar um espírito mais reflexivo, analítico; lá teremos algo mais factual, declaradamente leve, no sentido que Ítalo Calvino definia, sem deméritos na "literatura ligeira".
Os parcos leitores daqui, estão convidados a visitar-me também no endereço twitter.com/alexmelo. Divirtam-se pois é o que estou fazendo.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Tomara que pelos menos alguém esteja se divertindo com isso

Na propaganda eleitoral na televisão hoje, uma candidata a vereadora se comprometeu a obrigar a Prefeitura de Fortaleza assinar as carteiras profissionais de carteiros, e lutar para que os Correios (que não custa esclarescer é uma empresa federal, sem ligação com o poder municipal) façam mais concursos para o cargo ???!!!

sábado, 9 de agosto de 2008

Jogando para a platéia

Não importa o preço do barril de petróleo, o taxa de juros do Tesouro Americano ou a SELIC no Brasil, o índice BOVESPA; sempre foi um bom negócio ludibriar a platéia, e disso a cúpula da REDE RECORD sabe muito bem (e mais não falo, pelo risco de sofrer um processo).
Neste domingo a RECORD divulga que exibirá no TELA MÁXIMA, Mr Bean - Um Agente Muito Louco. Relevando essa cretinice do subtítulo, tem um outro problema, o Mr. Bean não está no filme. Ok, o filme é com seu intérprete, Rowan Atkinson, tem os mesmos trejeitos, só que desta vez o personagem, que dá nome ao filme no original (e inclusive ao DVD, pode procurar) é Johnny English.
O cartaz é tirado do site da emissora, que nem se deu o trabalho de editá-lo.
A RECORD que vem copiando tão descaradamente a GLOBO para alavancar sua audiência, como aluna aplicada repete a tradição da "Vênus Platinada" da manipulação de informação. Parabéns!!

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O fim da civilização como a conhecemos

Então você tem uma sessão de filmes nomeada de CINE BELAS ARTES, e você agenda para apresentar logo a adaptação live-action do Scooby-Doo, que aliás é mais fraco que a continuação.
Não é sacanagem, confira no link.
E olha que o SBT tem o catálogo dos filmes de Stanley Kubrick, Michael Mann, os últimos deMartin Scorcese (menos Gangues de Nova York).

domingo, 22 de junho de 2008

I Ching

O oráculo gosta de pregar peças.
Na escolha aleatória do tocador de mídia do computador, juntou I've Fallen In Love With You, de Joss Stone para em seguida aparecer Suor Times, do Portishead, sem motivo começo a rir.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Vida inteligente na madrugada, sério!!

Qual meu filme favorito? Para mim esta pergunta tem um significado bem específico, não é o melhor que assisti (até a data? Laranja Mecânica), também não é a raridade cult que praticamente ninguém mais viu (A Estrada Perdida), ou ainda o título odiado pela crítica (A Praia), nem a bobagem trash que desperta um estranho orgulho em defendê-la (Re-Animator), Para mim é aquele que estabeleceu não apenas uma singularidade quase instantânea comigo, mas que ao longo dos anos esta conexão só fez aumentar. Assim não tenho só um filme favorito, são três.
É verdade que assiste-os nos meus "anos de formação", dos 13 aos 17, só que não me rendo ao clichê. Acho desolador pessoas que não mais consigam se sensibilizar, ou que se tornam reféns dos gostos e códigos de uma época supostamente idílica. Espero ter deixado claro acima que minhas escolhas não são preponderamente cerebrais, também o são, mas há o elemento visceral. E com alegria que digo ser razoável que mais quatro filmes ascenderam ao panteão, e todos foram lançados depois de extraídos meus dentes do siso. Na ordem: Amnésia (Memento), Os Incríveis, Sunshine - Alerta Solar e Ratatouille. Só que isto é conversa daqui para dez anos.
A presente tríade sagrada, é harmônicamente dividida em: aquilo que eu sou, aquilo que amo, minha visão de mundo. Este post é dedicado ao último, se o tema surgir falo dos outros dois (uma dica: o primeiro é polônes, e o segundo, inglês).
Nesta sexta-feira no CORUJÃO da REDE GLOBO exibirá MASH de Robert Altman. Duvido que comece antes das três da madrugada... Pena, é uma das melhores comédias do cinema, deve existir uma regra tácita na televisão aberta que bane qualquer coisa remotamente inteligente a clandestinidade.
O título é um acrónimo em inglês de Hospital Cirúgico-Médico Móvel do Exército, e ação se passa na Guerra da Coréia. À primeira vista, parece de mal-gosto uma comédia sardônica numa guerra, ainda mais num acampamento médico. Só que o comportamento hedonista dos integrantes, acaba sendo um dos mais poderosos líbelos pacifistas já feitos. Produzido no mesmo período da Guerra do Vietnam, produzia um ligação, consciente, que demonstrava que ao contrário da Segunda Guerra Mundial, que combateu um sistema facínora, as duas eram batalhas sem lógica, pelo que afinal os EUA se meteram nessas duas enrascadas?
Aqui se burila o que no futuro seria a marca de Robert Altman, o estilo multifacetado com várias histórias e personagens que se entrecruzam, consagrado em Nashville, e elevado ao estágio sublime em Short Cuts - Cenas da Vida.
Por isso o filme é uma impagável sucessão de micagens e pegadinhas. As melhores são dirigidas contra o major certinho interpretado por Robert Duvall e a enfermeira-chefe, que depois de juntos serem desmascarados, passa a ser chamada de Hot Lips (lábios quentes).
Outra é quando o dentista residente, que por ser extremamente bem dotado, hããã e não me refiro aos seus méritos intelectuais, ganha o apelido de Painless (sem-dor), se descobre impotente e decide que a vida não tem mais sentido decidindo suicidar-se. Seus companheiros ao saber disso, em vez de solidarizar-se com o homem do jeito contrito, fazem uma festa de despedida de aromba. O ponto alto é quando apresentam uma música especialmente composta para a ocasião: Suicide Is Painless.


Não se deixe enganar, é uma das películas das mais argutas. Possivelmente este seja o motivo para que Robert Altman, o diretor, desprezasse a série de TV baseada no filme, o conteúdo político foi esvaziado em detrimento da comédia (o clip no alto é uma montagem com cenas do seriado). Para o imenso desgosto de Altman, houve 11 temporadas na televisão. M*A*S*H*, a série é uma espécie de Roque Santeiro americano, seu último episódio foi a maior audiência da história da televisão de lá. Salvo engano, o recorde se mantém até hoje.
MASH no Corujão de hoje, isso sim é que é vida inteligente na madrugada!

Atualizado:
  1. A GLOBO não facilita em nada. Jô Soares voltou das férias ainda mais preguiçoso, e com convidados soporíferos, para completar na seqüência, no INTERCINE estava programado a bomba Halloween - Ressurreição. Tirei uma soneca esperando o CORUJÃO. Lamentavelmente quando acordei já tinha corrido uma hora de MASH. Ainda sim valeu a pena, continua irretocável, e com o tempo só melhora.
  2. Vai entender. A mesma classificação indicativa do Ministério da Justiça que tasca um selo vermelho (restrito para maiores de 16 anos) para HOUSE, o que o impede de ser exibido antes da 23 horas, por linguagem forte, insinuação sexual, morte e drogas; deu um verde (livre para qualquer público) para MASH. Taí mais um exemplo de que a censura é essencialmente tacanha, e de que o humor é a arma de inteligência suprema, subversivelmente enganando o sistema.
  3. Deu um pouco de trabalho, mas achei a cena no YouTube onde tocam Suicide Is Painless, repare que no comecinho eles reproduzem as mesmas marcações d'A Última Ceia" de Leonardo DaVinci.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Meu cachorro não tem nariz

Como muitos da minha geração, e falo de pessoas com seus 30 anos (e sem papai rico para conhecer em primeira mão numa viagem de férias pela Europa), conheci o Monty Python na Sessão Comédia que a REDE GLOBO apresentava na madrugadas de segunda-feira. A exibição era tão madrugada adentro, que mesmo empolgado vendo A Vida de Brian (e importante dizer que só mais tarde é que entendi a relevância dos Pythons para a comédia moderna, mesmo sem nenhum contexto os ingleses já à primeira vista mesmerizam), não resisti e fui dormir na primeira metade do filme. Só recentemente assisti na íntegra na Edição Imaculada, que é como é chamado o DVD duplo.
A Sessão Comédia também consagrou um dos grandes engodos na dublagem brasileira no Em Busca do Cálice Sagrado. São antológicas as aparições dos temíveis Cavaleiros que Dizem Ni. Aprisionados por eles, o Rei Arthur e Sir Bedevere devem trazer um "shrubberie" ao covil deles. No desespero, os dois torturaram uma velha dum vilarejo até que por acaso, aparece um shrubberneiro, que oferece seus serviços e salva o dia. Ingenuamente, não só eu, mais todos meus amigos lembrando do trecho, pensavamos que o mote era que "shrubberie" era uma palavra inventada, daí o terror dos personagens. E não é que dois anos atrás vendo o DVD, com som original e legendas, finalmente descubro que "shrubberie" significa "canteiro de jardim". Meio atônito, até usei o zoom no controle remoto para ver o cercadinho no canto da tela. A vida real é que é a verdadeira piada.
Pensei neste post sobre o Monty Python quando li sobre os 50 melhores sketches cômicos de todos os tempos, eleitos pelo site NERVE e o Independent Film Channel. Menos pela honestidade, e mais pelo senso de ridículo não vou comentar os escolhidos e posições, não tenho tarimba o suficiente para fazê-lo. Quem tem um mínimo de conhecimento de cinema, cita uma dezenas de atores emersos do Saturday Live Night, que os tenham vistos no programa é outra história. Lembro-me de ter lido algo sobre os Kids in the Hall, grupo canadense com várias menções na lista, ainda assim eram só umas linhas sobre filmes estrelados pela trupe. The State? Nunca ouvi falar.
Então eles poderiam atulhar o rol da maneira que melhor os convia, agora o primeiro lugar já tem dono: Monty Python's Flying Circus. A batalha agora é qual dos sketches alcançaram o Graal (perceberam? Graal? Monty Python? como sou engraçado)
O erigido foi O Papagaio Morto:


Sinceramente não se aplica a questão de contestar por injusto o resultado. Só apontar seu favorito. No meu caso é até fácil, sem medo de me render ao clichê, A Piada Mais Engraçada do Mundo:


Há quem resista John Cleese gritando "it's not funny"?
Ainda inspirado na Segunda Guerra Mundial, Sr. Hilter:


Impagável a caracterização de Michael Palin como Sr. Bimmler. É um tapa na cara desses humoristas de meia pataca, principalmente os do meu estado, que acham que basta um homem vestido de mulher para fazer graça
Mesmo um quadro que acho fraco, é acima da média. Quantos programas de humor citam o solene poema And Did Those Feet de William Blake, e continuam engraçados? Soa pomposo? Claro mais esse efeito é desejado e essa é toda diferença:


Sarro com uma instituição inglesa como Agatha Christie


Marcando a cultura pop, SPAM:


Antevendo o futuro, com programas de televisão sem nada de conteúdo recheados de gente louca para aparecer:


Um preferidos dos fãs:


Encerro com o final de A Vida de Brian:

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Genro de ouro

Hoje é o dia da sogra. A melhor piada sobre o tema é a daquele governador que não enxerga nada de errado em levar a mãe de sua esposa numa viagem oficial, e ainda reclama de perseguição e deboche.
De tão boa a piada valeu R$ 400.000,00. Quase metade do prêmio do Big Brother da REDE GLOBO, nada mal, hein?
Mas a sério agora, Cid Gomes estaria ao lado do irmão Ciro Gomes, deputado federal pelo PSB-Ce, construindo o que eles chamam de Nova Hegemonia Intelecto-Moral Brasileira. Lembrei-me daquela pilhéria sobre o Sacro-Império Romano Germânico, Não era sacro, nem império, nem Romano e muito menos Germânico.

domingo, 27 de abril de 2008

You got me begging you for mercy

A Inglaterra é um país sui generis. Pense no surgimento dos Punks que começou nas ilhas. O movimento defendia o "Do Yourself", mas observando mais de perto via-se que isto não significava faça de qualquer jeito. Os Sex Pistols eram anarquistas sim, mas com um empresário espertíssimo para o markenting, Malcom Mclaren, e com uma estilista oficial que milimetricamente escolhia onde estariam os rasgões e quanto desgastadas estariam as roupas, Viviane Westwood. Na superfície pregava o desleixo com músicas de três minutos com dois acordes, mas gerou um dos grupos mais sofisticados musicalmente que já existiram na história do Rock, The Clash, que no seu auge produziu um álbum triplo: Sandinista. Afora que Joe Strummer e Mick Jones são dois exemplos de roqueiros articulados.
Um resenhista sem criatividade começaria neste ponto a si perguntar sobre as propriedades mágicas da água que os ingleses bebem, como não é o caso entrego o ouro, primorosa educação (e claro, também o sistema de saúde universal ajuda um pouco) dedicado aos súditos de Sua Majestade. Até temos músicos que produzem música para descerebrados como o Iron Maiden mas gente como Bruce Dickson tem impecáveis credenciais acadêmicas.
São raros os casos em que os músicos britânicos não têm educação superior, não necessariamente graduação em música, caso dos integrantes do Queen, mas mesmo os "excluídos" há gente como David Bowie. Recentemente o guitarrista do Radiohead assombrou o mundo ao compor a impressionante trilha sonora do filme Sangue Negro, Jonny Greenwood estudou composição no vestuto Oxford Brookes University e há quatro anos é o compositor residente da BBC Concert Orchestra, na supracitada trilha usou com autoridade marcas da música erudita como atonalismo e dissonância. Antes que deixe batido, é o país do Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin.
O reflexo disso é uma imprensa especializada de primeira, não apenas no jornalões mais revistas segmentadas. Pense em quantas revistas de circulação nacional existem aqui no Brasil, de cabeça só lembro de duas: Bizz (sempre em vias de cancelamento) e Rolling Stone Brasil, mensais e de tiragem pífia. Na velha Albion essas publicações são semanais, vendem muito, bem escritas, e são influentes, caso do New Musical Express. Na verdade a disputa é tão acirrada que é voraz a caçada para o nova sensação, o hype no jargão da crítica. Existe muito exagero na consagração, como no caso aos Libertines, mas não nos méritos de quem é erigido: Franz Ferdinand, Klaxons, Arctic Monkeys.
A nova febre são cantoras de acento soul, que pipocam numa velocidade alucinante. É até engraçado pensar que Joss Stone é uma veterana com 3 discos na praça, e como tal, já tem que se preocupar em guinadas e reinvenções para manter-se em evidência. Causa estranheza que a outrora gatinha do Soul, que cantava descalça com aqueles vestidões floridos levementes hippies, surja agora de saltos altíssimos, piercing na barriga, sempre à mostra, cabelo tingido de vermelho. Mas é prudente maneirar na patrulha, Stone é jovem, linda e com dinheiro e Introducing Joss Stone tem boas faixas.
Na segunda onda estavam Lily Allen e a maravilhosa (e perdida) Amy Winehouse, que tomara Deus que o próximo disco da última não seja póstumo.
Agora na nova leva é a vez de Kate Nash, Adele e Duffy. Incrível é que todas são muito jovens, Adele tem só dezenove anos. Falando sobre Kate Nash o grande crítico da New Yorker, Sasha Frere-Jones aponta que estourou cedo demais e como suas letras são sempre confessionais é um problema, uma garota tem um universo muito restrito, o que cansa a audição de um disco ou show inteiro (para quem lê em inglês uma dica é ler seu blog no site da revista).
Nash estorou com a música Foundations:


O marcante nela é seu canto quase falado e estilo metralhadora, ouça aqui a cover de Flourescent Adolescent dos Arctic Monkeys:


Já Adele, ganhou a (injusta) pecha de clone de Amy Winehouse. Hehe! Ok vamos admitir esta hipótese por um momento. Ele já teria o mérito de copiar aquilo que já é bom, e consegue um grande resultado. Ficaria com a opinião do personagem de Orson Welles no filme Verdades e Mentiras defendendo que uma boa falsificação de uma obra de arte é tão válida quanto a original.
Esta é minha música favorita dela, Could Shoulder:


Há quem diga que essas cantoras são "inventadas" por produtores como Mark Ronson. Bem seguindo na linha que expus acima, se for isso mesmo, parabéns então a esses caras. São grandes ilusionistas e entregam entretenimento de primeira. Bem diferente dos picaretas aqui do Brasil como Rick Bonadio, que lançou os trambiques Rouge e CPM22.
Chegamos na minha nova diva, Duffy. Uma jovem galesa de 23 anos. Ouça a faixa título de seu CD, Rockferry:


Ela dominou as paradas com a fusão do soul e um quê de country de Mercy:

Aqui você pode ver o clip americano, prefiro o que postei acima veja os dois e faça sua escolha.
Agora a música que me fez minha sedição incondicional é Delayed Devotion. Sei até o momento exato. Nos versos: When I drop you boy/ You'll need another toy/ One that won't stand up for herself/ When I knock you down. Irresistível!! (recomendo que busque as letras de todos os vídeos, são muito boas, sem exceção)


Agora o que é bizarro é que pensando na letra de Delayed Devotion me dei conta que tem o mesmo mote de Baba Baby de Kelly Key. Hehe! Com a diferença crucial que Duffy canta de verdade, e sua música é linda.
Dá ou não dá uma inveja danada dos ingleses, eles: Joss Stone, Amy Winehouse, Kate Nash, Adele, Duffy. Nós Wanessa Camargo, Sandy, Liah, Marjoire Estiano, Perlla...
É impressão minha ou estou ouvindo: "You got me begging you for mercy".

Trívia

Que tal um teste nerd? Tente identificar as silhuetas dos personagens de desenhos animados que segue abaixo.
Existem algumas barbadas, mas reconhecer todos é feito para entrar no Hall da Fama dos Nerds. Na minha vez deixei passar quatro, dois deles até me eram familiares, mas olímpicamente descartei na contagem final. Os outros dois. nunca tinha ouvido falar antes.

Clique aqui, para ter uma imagem ampliada.

De volta a ação


Há duas maneiras de explicar a ausência de postagens nos últimos meses.
A polida: por razões pessoais decidi tirar o mês de março para um sabático, o problema é que o tempo passou e continuei sem escrever. É exagerado dizer que passei por um bloqueio criativo, mas realmente não me sentia estimulado a voltar ao "batente". Escrever ainda é um martírio, me chateia a quantidade de texto que jogo fora ou as inúmeras revisões que me imponho antes da versão final, mas sem mais choradeiras tenho muito orgulho de algumas destas resenhas, como aquela do comercial com Martin Scorcese.
Matutava um ou outro post avulso, mas ia deixando passar. Não é intenção do blog atulhar um monte de mensagens do calibre "Pessoal olha isso q é mucho LOCO!!!". Em vez disso criar um espaço de reflexão, desafeto de qualquer pedantismo, e divulgação de uma ou outra coisa que me comova, para com sorte, esse sentimento atinja meu leitor.
Confesso que tive uma pequena satisfação nesse sentido quando um dos meus diletos amigos, com sua generosidade habitual me intimou a retomar a escrever. Uma pequena vitória então! E eis que me encontro aqui de madrugada teclando com umas três idéias rodando a cabeça, se o sono não chegar antes consigo desová-las. Não vou prometer que será a última vez, só continuar enquanto uma nova estiagem não chega.
A segunda explicação, [módulo Gregory House ON]: Cara isto aqui é para diversão, se nem eu consigo isso, por corolário você também não conseguirá, não acha, ou você é retardado mesmo? [módulo Gregory House OFF]
Boa noite.

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Now playing: Cranberries - I Still Do
via FoxyTunes

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Diálogos truncados.

No começo era uma bobagem que não valeria o esforço que levo para escrever o mais simples do posts, mas como o assunto rendeu, a situação vale um comentário.
Zeca Camargo até um tempo atrás tinha um dos melhores textos do jornalismo cultural. Hoje, o homem está envelhecendo mal, é duro ter que aguentar afetações como "mas quero só assinalar que é nossa obrigação, como seres pensantes, venerar qualquer coisa que venha do Radiohead - ou um de seus membros". Ele está falando da trilha sonora do filme Sangue Negro assinada pelo guitarrista do grupo, Jonny Greenwood, que registre-se acho genial, agora não embarco nesses chiliques. Contudo até uns dez anos atrás, suas resenhas não apenas eram divertidas quanto atualíssimas. Graças a Camargo é que li pela primeira vez de uma certa banda inglesa que lançava um disco homônimo, um tal de Portishead. Outra comentando sobre o álbum Elegantly Wasted do INXS, disse que mal podia esperar pelos próximos dois CD's do grupo, mas especificamente o 2º, afinal se aquele era uma cópia descarada de The Joshua Tree do U2, era de se esperar que chupariam em seguida o Rattle and Hum e Achtung Baby. Suas coberturas do Free Jazz acredito que do ano de 1997, o que teve Neneh Cherry e Jamiroquai, e de uma revista francesa sobre os 100 melhores singles de todos os tempos, são influências recorrentes no estilo almejado pelo signatário do blog.
Pena que a GLOBO desperdice o talento do sujeito com entrevistas ridiculamente pomposas como a de Sandy e Júnior, discutindo esse grande abalo da música pop que significou o rompimento da dupla (morri de rir com os lentos travellings, e cortes para close-up, num cenário de um palco vazio imenso, na tentativa de dar alguma gravidade solene), ou agora com essa série de matérias sobre o Japão. Se eu tivesse a chance de viajar para um país fascinante como o Japão não titubearia, agora pensar que rende interesse é outra história (numa sondagem com conhecidos a extensa maioria qualifica a reportagem como um porre).
Finda a introdução.
Na semana passada, Zeca Camargo soltou a pérola em seu blog no G1 sobre a mini-série Queridos Amigos: fui só eu que tive a impressão que minha TV aberta tinha, de repente, se transformado numa HBO?
Hehe! E Paulo Coelho também pode, de repente, se transformar em Machado de Assis (que alias também esta hospedado no G1).
Uma afirmação sem-graça, merece um comentário sem graça, cortei e colei o que ele tinha escrito e acrescentei "menos garoto, menos...".
Estranhei que o moderador do blog cortou meu post, que era obviamente gaiato. Não ofensivo. Mas é do jogo, existe o aviso que os comentários são avaliados e podem ser limados, e não recrimino, sendo ele uma persona pública, imagino a quantidade de chateação que tem que aturar. Achei desproporcional, entretanto, estes são meus critérios, poderia questionar os deles se fossem públicos, não os são, então como disse antes, aceito a retirada.
Se parasse aqui, teria apenas uma história para contar a amigos. Só que muita gente implicou com a frase, e como confessa amigos e conhecidos diletos de Zeca Camargo que acabou escrevendo um novo post, na tentativa de explicar o que queria dizer.
Se antes era um acidente de carro, agora temos trens colidindo.
Então o que Queridos Amigos tem em comum com as séries da HBO é que um personagem fala descaradamente mal da TV no programa. Menos que uma revolução isto mostra o atraso da nossa televisão. Um personagem de ficção pode falar mal da TV, ser machista, pedófilo, defender a castração de ciganos e judeus, viciado em substância ilícitas, o escambaú (e antes que alguém levante a lebre, não é que acho reprovável alguém reclamar da TV, apenas quero mostrar que a dramaturgia pode tratar qualquer tema, inclusive os repulsivos). O que não pode é ser mal escrito, coisa que ele admite que está ocorrendo, quando malha os diálogos melosos do programa.
Talvez o espanto venha porque a mesma emissora atualmente vem "recomendando" seus funcionários, inclusive os do jornalismo, a falar recorde, em vez do gramaticalmente correto recorde, apenas pela pusilaminidade de evitar qualquer vinculação com a TV RECORD, que vem crescendo de audiência, ainda que ainda nade de braçada da concorrência, a GLOBO passa por constragimentos como quando é ultrapassada na audiência nas (e só nas) noites de quarta-feira, inclusive quando transmitia um jogo do Corinthians. Não pode-se esquecer que sempre que falam sobre trabalhos pregressos os "colaboradores" (como odeio essa palavra usada neste sentido!) sempre se referem à "outras emissoras", raramente citando-as nominalmente. Já vi casos patéticos em que uma atriz numa entrevista falava de sua estréia era para todos os efeitos foi quando estreou na emissora carioca, desprezando suas atuações no SBT, que tivesse vergonha do desempenho (e bem podia ter mesmo, era um lixo, a atuação, personagem e novela), é outra história, ignorar o passado é vergonhoso.
Uma breve digressão, o que aconteceu com o Vídeo Show, pelo ao menos até a época que Márcio Garcia substituiu Miguel Falabella, era muito bom, e não falava apenas de televisão, cobria cinema, e até quadrinhos, lembro que assistiu uma matéria sobre a produção da obra-prima Marvels de Kurt Busiek e Alex Ross. Hoje não passa de um release vagabundo sobre as atrações da GLOBO (além de uma justificativa para o salário de Angélica e Fernanda Lima), não serve nem como institucional já que duvido que uma empresa queira ter sua imagem vinculada a um banana como André Marques, o eterno Mocotó de Malhação.
Seria ótimo que a TV tratasse além de si mesma, mas a própria mídia em geral, como a concessões para emissoras da parte da GLOBO, por políticos como a família Sarney no Maranhão, e a Magalhães na Bahia, ou num plano maior a aquisição de grupos midiáticos por igrejas como a Católica e seitas como a Universal do Reino de Deus. Incluindo a recente ofensiva de intimidação, através de uma infinidade de ações judiciais, de várias regiões do país, muitas com texto idêntico contra a Folha de São Paulo, e sua jornalista Elvira Lobato,que publicou uma matéria questionando a origem dos fundos da seita e vários membros dela que detêm suas concessões públicas. Só vi o assunto discutido no Observatório da Imprensa na TV Brasil e de madrugada, uma pena.
Voltando agora, ele também fala do uso de linguagem mais forte, inclusive chula. Há muito tempo que não me impressiono com crianças falando coisas como pentelho. Abordagem mais maduras de um programa que nunca passa antes das 23:00, não é um avanço, é uma possibilidade.
Não vou perder meu tempo comparando Queridos Amigos a por exemplo, Família Soprano ou Roma, é matar mosca usando uma bomba atômica, prefiro chamar atenção para o fato que Desperate Housewives que tem várias vezes mais venalidade, diálogos afiados, e personagens intrigantes, nos Estados Unidos passa em canal aberto, em horário nobre, na rede pertencente a um conglomerado que rima com família, a DISNEY.
Poderia argumentar que os Estados Unidos são mais liberais. Falso, alguns americanos são assim, mas a maioria deles é conservadora, ou não teria reeleito George W. Bush. O que explica o sucesso de Desperate Housewives? Ora o programa é excelente. Bastou isso, embora a ABC, emissora também de Lost, também está longe de ser uma HBO.
Num post mais sensato, Daniel Piza, jornalista do Estado de São Paulo discorre sobre como a televisão, infelizmente apenas e tão somente a por assinatura, oferece mais que entretenimento mais grandes opções artísticas.

Parece que o cargo está vago.

Estou me candidatando ao cargo de editor da versão local do GLOBO ESPORTE. Meus requisitos, bom-senso, e reviso qualquer texto que me cai a mão, inclusive aqueles que não escrevi, e de qualquer assunto.
Eu jamais deixaria passar uma bobagem como a que vi hoje. Na chamada a apresentadora, Mariana Sasso disse, "O Ceará confirma sua fama de celeiro de talentos do handbol".
Celeiro de talentos do handbol? O Ceará? Do que ela está falando?
A matéria mostrava duas garotas que estão de mudança para Santa Catarina. Duas garotas mesmo, adolescentes, receberam o convite para jogar por um time de um colégio do sul. Nem ao menos é um time profissional. As duas estão certas, devem ser boas atletas, para a idade, por isso receberam a proposta, e alguma vantagem, ao menos hospedagem, devem ter garantidas. A família ganhou um vídeo profissional para passar nas festas de família. O jornalismo esportivo perdeu espaço para uma matéria relevante. E olha que o futebol cearense tem muita pauta interessante para ser coberta.
Mas estou sendo muito esperançoso, afinal uma crônica esportiva que tem alguém do naipe de um Victor Hannover...