domingo, 27 de abril de 2008

You got me begging you for mercy

A Inglaterra é um país sui generis. Pense no surgimento dos Punks que começou nas ilhas. O movimento defendia o "Do Yourself", mas observando mais de perto via-se que isto não significava faça de qualquer jeito. Os Sex Pistols eram anarquistas sim, mas com um empresário espertíssimo para o markenting, Malcom Mclaren, e com uma estilista oficial que milimetricamente escolhia onde estariam os rasgões e quanto desgastadas estariam as roupas, Viviane Westwood. Na superfície pregava o desleixo com músicas de três minutos com dois acordes, mas gerou um dos grupos mais sofisticados musicalmente que já existiram na história do Rock, The Clash, que no seu auge produziu um álbum triplo: Sandinista. Afora que Joe Strummer e Mick Jones são dois exemplos de roqueiros articulados.
Um resenhista sem criatividade começaria neste ponto a si perguntar sobre as propriedades mágicas da água que os ingleses bebem, como não é o caso entrego o ouro, primorosa educação (e claro, também o sistema de saúde universal ajuda um pouco) dedicado aos súditos de Sua Majestade. Até temos músicos que produzem música para descerebrados como o Iron Maiden mas gente como Bruce Dickson tem impecáveis credenciais acadêmicas.
São raros os casos em que os músicos britânicos não têm educação superior, não necessariamente graduação em música, caso dos integrantes do Queen, mas mesmo os "excluídos" há gente como David Bowie. Recentemente o guitarrista do Radiohead assombrou o mundo ao compor a impressionante trilha sonora do filme Sangue Negro, Jonny Greenwood estudou composição no vestuto Oxford Brookes University e há quatro anos é o compositor residente da BBC Concert Orchestra, na supracitada trilha usou com autoridade marcas da música erudita como atonalismo e dissonância. Antes que deixe batido, é o país do Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin.
O reflexo disso é uma imprensa especializada de primeira, não apenas no jornalões mais revistas segmentadas. Pense em quantas revistas de circulação nacional existem aqui no Brasil, de cabeça só lembro de duas: Bizz (sempre em vias de cancelamento) e Rolling Stone Brasil, mensais e de tiragem pífia. Na velha Albion essas publicações são semanais, vendem muito, bem escritas, e são influentes, caso do New Musical Express. Na verdade a disputa é tão acirrada que é voraz a caçada para o nova sensação, o hype no jargão da crítica. Existe muito exagero na consagração, como no caso aos Libertines, mas não nos méritos de quem é erigido: Franz Ferdinand, Klaxons, Arctic Monkeys.
A nova febre são cantoras de acento soul, que pipocam numa velocidade alucinante. É até engraçado pensar que Joss Stone é uma veterana com 3 discos na praça, e como tal, já tem que se preocupar em guinadas e reinvenções para manter-se em evidência. Causa estranheza que a outrora gatinha do Soul, que cantava descalça com aqueles vestidões floridos levementes hippies, surja agora de saltos altíssimos, piercing na barriga, sempre à mostra, cabelo tingido de vermelho. Mas é prudente maneirar na patrulha, Stone é jovem, linda e com dinheiro e Introducing Joss Stone tem boas faixas.
Na segunda onda estavam Lily Allen e a maravilhosa (e perdida) Amy Winehouse, que tomara Deus que o próximo disco da última não seja póstumo.
Agora na nova leva é a vez de Kate Nash, Adele e Duffy. Incrível é que todas são muito jovens, Adele tem só dezenove anos. Falando sobre Kate Nash o grande crítico da New Yorker, Sasha Frere-Jones aponta que estourou cedo demais e como suas letras são sempre confessionais é um problema, uma garota tem um universo muito restrito, o que cansa a audição de um disco ou show inteiro (para quem lê em inglês uma dica é ler seu blog no site da revista).
Nash estorou com a música Foundations:


O marcante nela é seu canto quase falado e estilo metralhadora, ouça aqui a cover de Flourescent Adolescent dos Arctic Monkeys:


Já Adele, ganhou a (injusta) pecha de clone de Amy Winehouse. Hehe! Ok vamos admitir esta hipótese por um momento. Ele já teria o mérito de copiar aquilo que já é bom, e consegue um grande resultado. Ficaria com a opinião do personagem de Orson Welles no filme Verdades e Mentiras defendendo que uma boa falsificação de uma obra de arte é tão válida quanto a original.
Esta é minha música favorita dela, Could Shoulder:


Há quem diga que essas cantoras são "inventadas" por produtores como Mark Ronson. Bem seguindo na linha que expus acima, se for isso mesmo, parabéns então a esses caras. São grandes ilusionistas e entregam entretenimento de primeira. Bem diferente dos picaretas aqui do Brasil como Rick Bonadio, que lançou os trambiques Rouge e CPM22.
Chegamos na minha nova diva, Duffy. Uma jovem galesa de 23 anos. Ouça a faixa título de seu CD, Rockferry:


Ela dominou as paradas com a fusão do soul e um quê de country de Mercy:

Aqui você pode ver o clip americano, prefiro o que postei acima veja os dois e faça sua escolha.
Agora a música que me fez minha sedição incondicional é Delayed Devotion. Sei até o momento exato. Nos versos: When I drop you boy/ You'll need another toy/ One that won't stand up for herself/ When I knock you down. Irresistível!! (recomendo que busque as letras de todos os vídeos, são muito boas, sem exceção)


Agora o que é bizarro é que pensando na letra de Delayed Devotion me dei conta que tem o mesmo mote de Baba Baby de Kelly Key. Hehe! Com a diferença crucial que Duffy canta de verdade, e sua música é linda.
Dá ou não dá uma inveja danada dos ingleses, eles: Joss Stone, Amy Winehouse, Kate Nash, Adele, Duffy. Nós Wanessa Camargo, Sandy, Liah, Marjoire Estiano, Perlla...
É impressão minha ou estou ouvindo: "You got me begging you for mercy".

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