quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Alan Moore amarelou, e ele não foi o único

Não é trabalho nenhum procurar motivos para gostar de Simpsons, mas o que faz este coração nerd bater mais rápido são as piadas com referências. Num episódio a família vai a um Multiplex com mais de 50 salas, todas com alguma menção a Matrix. Havia cartazes com filmes como “XMatrix” (não é um cruzamento de Matrix com X-Men, mas com o natal em inglês, no pôster Neo estava com o gorro do Papai Noel), outro com “You are in Matrix Charlie Brown”, com Charlie Brown, todo de sobretudo de couro e óculos pretos estilosos.
Teve uma vez que Homer é transferido para Índia, e é apresentado rapidamente panteão hindu. Vendo Ganesh, Kali e Shiva, dispara: “vamos ver, vocês tem o homem-elefante, Johnny Seis-Braços e o Papai Smurf”.
Talvez minha sacação favorita seja quando ocorrem as participações especiais de Thomas Pynchon, escritor de V (até hoje lamento não ter comprado, quando tive a chance), Leilão do lote 49, e um dos mais áridos livros que li na vida O Arco-Íris da Gravidade (eternamente grato à generosidade do meu amigo, Paulo Adriano, por ter me emprestado). Sempre aparece com um saco na cabeça. É uma tirada com a fama de recluso do escritor, tal como J. D. Sallinger, pelo que sei só há duas fotos publicadas do escritor, uma de quando servia na Marinha Americana recém saído da adolescência, e outra, de costas, saindo de um mercadinho. Corre a lenda que ele é, na verdade, a identidade que Jim Morrisson, líder dos The Doors, adotou depois de simular sua morte em Paris.
Estão aí alguns diferenciais do desenho, não só o calibre das participações especiais, duvido que você algum dia encontre o professor Stephen Hawking na A Praça é Nossa, utiliza magistralmente as características e idiossincrasias dos personagens.
Com tudo isso, passei por uma comoção quando soube que Alan Moore, criador de Watchmen, V de Vingança, Miracleman, Monstro do Pântano, e outros clássicos dos quadrinhos, aquiesceu e gravou algumas falas para a nova temporada. E ainda de bônus Art Spielgeman, ganhador do Prêmio Pulitzer por melhor livro de ficção e Daniel Clowes, autor de Ghost World.
Veja aqui a cena toda aqui.
Repare os posteres de Maus de Spielgeman e (surpresa!!) Lost Girls de Alan Moore. Genial e subversivo! Uma obra pesada de reminências do Holocausto Nazista e outra abertamente pornográfica, num desenho que você pode assistir no Brasil ao meio-dia em rede aberta. Claro muitos poucos percebem essas coisas, mais mostra que os roteristas ao menos se dão ao trabalho de contextualizar as situações. Para o grande público fica apenas o rídiculo de um homem de meia idade fã de personagem em quadrinhos e artigos kitisch como o bat-cinto. O leitor de HQ's gargalha ao ver que Daniel Clowes, um dos mais alternativos americanos, sempre quis escrever o Batman. Moore com um grande histórico de rixas com editoras e estúdios de cinema que adaptaram (porcamente) suas obras tem que passar pelo constragimento de encarar que não apenas aquele que talvez seja seu melhor trabalho, aclamado como a obra que elevou os quadrinhos de super-herói a grande literatura, podendo ser lida sem constrangimentos por um público exigente, em uma obra para criancinhas (no que essa palavra tem de mais deletério). Simplesmente antológico. South Park e Family Guy são mais sarcásticos, Simpsons cada vez mais fica clássico.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Confissões de uma mente ociosa

Passei a noite de sábado insone. Lá pelas 4 da manhã tive uma surpresa, a GLOBO passou Futurama. No episódio, Fry é o único ser que pode salvar o universo da destruição total por um bando de cérebros voadores gigantes. E porque ele é tão especial? Por ser tão estúpido, que é ignorado pelos os tais cérebros que só esperam concluir o scanneamento de todas as formas de vida e explodir toda a criação. Perdão, não sabe do que estou falando, Futurama é um desenho animado, onde o tal Fry é um entregador de pizzas que acidentalmente é congelado no ano 2000, e reanimado no século XXI. Infelizmente só duraram quatro temporadas, mesmo tendo um personagem antológico como Bender, um robô sacana, cleptomaníaco, alcoólatra e fumante inveterado. Provavelmente o único ponto baixo, é que seu criador, Matt Groening, tenha feito antes Simpsons. Futurama é apenas um dos desenhos mais engraçados de todos os tempos, já os Simpsons, um marco da cultura pop, e o público é implacável.

Ainda antes, exibiram Uma Família da Pesada, outra excelente animação, na melhor piada, Peter Griffin está em negação, incomodado por seus exames revelaram que está obscenamente gordo. Brian, o cachorro da família (que não só fala, como é o mais sensato da família), joga então uma maçã ao redor de Griffin e ela começa circulá-lo. Brian então explica que ele está tão gordo que tem uma força gravitacional criando órbita em torno dele.

Quando enfim fui dormir deu-me um sentimento de frustração, porque diabos num horário tão ingrato? Ok, desenhos que ridicularizam pessoas com problemas mentais, obesos, homossexuais, com um bebê que planeja assassinar a mãe, não é o tipo de coisa que se esperaria mesmo às 20h00min, mas enquanto depois de Zorra Total? Digo isso porque alguns anos atrás a RECORD passava esses mesmos desenhos juntos no sábado nessa hora.

O que me enerva é que Altas Horas, programa de Serginho Groisman, que não só passa no mesmo dia e antes da séries, tem o mote de: vida inteligente na madrugada. Quando Groisman chegou a GLOBO, a idéia do programa era ser ao vivo com uma espécie de jam session, em que músicos depois de seus shows se reuniriam e bateriam papo, com debates com a platéia. Nada disso aconteceu, na verdade, tal como Jô Soares, o programa piorou em comparação com o que tinha no SBT. O livre acesso ao elenco da GLOBO, prestando-se como alavanca da programação, tornaram as pautas preguiçosas, não apenas óbvias, mas burras até. O quadro de dublagem é uma bobagem, aquele em que os convidados trazem objetos, pode parecer simpático, mas é totalmente descartável. E parece que sempre no final ele traz aquele pobre coitado do cabo-man, que ele não se digna em dizer o nome, só o apelido: seu Madruga. O sujeito surge com uma cara de choro, diz mensagens que até mesmo Paulo Coelho se envergonharia. Das duas, uma; ou o cara esta fingindo, e devia parar com isso, ou realmente ele desaba e chora compulsivamente sempre que é chamado. Aí mesmo que deviam parar com isso porque ele precisa de tratamento psiquiátrico. Fundo do poço foi quando começou a fazer pegadinhas como a da Leilah Moreno, vocalista da banda do programa, dizendo que a demitiria, ou quando pediu aulas de surf a Cauã Reymond, e as insuportáveis “não é foto, é vídeo”. Falta pouco e teremos um novo quadro “O táxi do Serginho”.

Surpreendente é Groisman ridicularizar o público jovem, logo esse que dizem que tem grande empatia. Vejamos o quadro Púlpito, o sujeito vai lá esbraveja qualquer coisa por 15 segundos, dá um soco, e aí... Aí nada, o cara termina, e volta para seu canto. Quando é escolhido alguém para conversar, começa bizantinas discursões sobre: o que é uma tatuagem tribal? Há quanto tempo você consegue mastigar esse chiclete? Anteriormente infiltraram um ator na platéia (formado por uma organização não-governamental, fato irrelevante mas sempre mencionado), que deveria fazer perguntas “inconvenientes” aos convidados. Para Wanessa Camargo perguntou sobre se ela só fazia sucesso por causa do pai e tio famosos. Na vez que tocava a banda Capital Inicial acompanhada de Dado Villa Lobos, cantou debochado Será, da Legião Urbana, dizendo que a letra é banal, pedindo que tocasse outra “melhorzinha”. Wanessa ficou encabulada, Dado exaltado, falava para o cidadão ir embora se não gostava da música. Dinho Ouro Preto começou o discurso que você pode não gostar do som, e tudo bem, mas tem que respeitar os que gostam, e blábláblá...

Vamos lá: será que estou sendo maldoso ou Wanessa Camargo, é realmente essa cantora consagrada, sem nada mais a provar, campeã de vendagens e execuções no rádio? Dinho Ouro Preto saiu-se com o discurso de roqueiro bunda que é, não defendendo uma atitude punk de faca na bota e partir para a porrada, também seria demais esperar uma resposta frankzappiana, mas Ouro-Preto podia ter um pouco mais de colhões. Já para Dado, faltou bom-humor, podia cantar então Monte Castelo, que tem além de Renato Russo como “co-autores”, São Paulo apóstolo e Luiz Vaz de Camões. Se essa trinca não sabe escrever, então não sei mais nada. O que evidencio é que podem ser incômodas, mas não tem porque não ser feitas. Insisto que o convidado só tem que defender seu ponto de vista, sem estrilar. Esse engodo, na verdade marginaliza que tem uma postura contestadora. Seria ótimo que logo em seguida alguém engatasse a mesma pergunta e insistisse que era a sério. Pena, o jeito é se conformar com perguntas do calibre de: o que você mais gosta de fazer TV, cinema ou teatro? Qual sua música favorita? Quando vai posar nua?

O mais louco é que tem muita coisa boa na madrugada. O SBT já passou Shortcurts, de Robert Altman, Laranja Mecânica e O Iluminado de Stanley Kubrick, O Informante de Michael Mann. A GLOBO além dos supracitados Futurama e Uma Família da Pesada, tem a Sessão de Gala com Kagemusha, à sombra de um guerreiro de Akira Kurosawa, Coisas Belas e Sujas de Stephen Frears, Eleição de Alexander Payne, As Virgens Suicidas de Sofia Coppola, e por aí vai.

O que me deprime é: porque na madrugada, porque não no horário nobre, ou melhor em qualquer horário. Será que é isso mesmo? A audiência é tão estúpida que não entenderia um programa como O Sistema? Ou Sílvio Santos está certo em substituir na madrugada séries como West Wing, Nip/Tuck, Médium, Sobrenatural, para no horário transmitir Fantasia?