sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Freixenet Navidad 2007, ótima safra!

Tenho uma dificuldade intríseca com comerciais . Explicando melhor, burro não sou, sei para que servem, estão perfeitamente inseridos no contexto de uma sociedade capitalista; e candidamente acredito que funcionam, ou não gastariam tanto dinheiro neles.
Meu problema é como funciona o mecanismo de alguém ver uma propaganda e decide pelo produto. Zeca Pagodinho, por exemplo, é um bebum a quem não confiaria nem para vigiar leite no fogão, e logo quem a
Brahma escolhe para propalar que todos podem começar a entornar umas já no meio da semana. José Wilker, grande ator, inteligente, bom crítico de cinema, e (para minha inveja) com uma baita sorte com as mulheres, agora desconhecia seus talentos como endocrinologista para recomendar aos outros Zerocal como adoçante. E quando Rodrigo Santoro diz que existem 120 razões para ser cliente Bradesco, para mim bastava uma, ser melhor que os outros bancos. Agora me causa ojeriza quando começa a cantilena de "banco do planeta", Greenpeace, WWF, PETA, S.O.S. MATA ATLÂNTICA, podem jogar pedras, mas prefiro que em vez de ajudar na procriação das baleias jubarte, que contratassem mais caixas para que fosse atendido mais prontamente.
Agora, há comerciais que chamam-me atenção para além de minha perplexidade, curiosos merecem uma segunda olhada. Como o de uma vinícola espanhola que contratou o diretor americano, Martin Scorsese, realizador de clássicos como
Taxi Driver, Touro Indomável, Os Bons Companheiros e Os Infiltrados (por qual ganhou o Oscar por direção cinematográfica) para divulgar a safra de 2007.
O primeiro acerto da peça publicitária foi evitar a suprema cretinice de bolar algo como Scorcese num restaurante fingindo conversar descontraído com amigos vem um garçom, serve o vinho, mal sorvendo a bebida, o diretor entre o espanto e êxtase diz: "eita, que esse vinho é bom mesmo!". O garçom dá uma piscadela e fala num tom meio maroto e de suave recriminação: "e o senhor, hein! que queria um
Beaujolais". e todos no restaurante caem na risada.
Houve a sensibilidade de criar um enredo, ou na linguagem cinematográfica, um plot (e bem mais sofisticado do que aquele onde Ronaldinho Gaúcho sai correndo por toda uma cidade atrás de um desodorante Rexona) aproveitando as especificidades e algumas lendas sobre Scorsese e Hollywood. É folclórico o conhecimento e memória do cineasta ítalo-americano, tanto que lhe rendeu vária menções de outro reconhecido nerd do assunto, Steven Spielberg, um documentário espetacular, A Personal Journey with Martin Scorsese Through American Movies (sei que foi lançado no Brasil como Uma Viagem Pessoal pelo Cinema Americano, em VHS, desconheço versões em DVD). além disso conduz um instituto que restaura e conserva filmes antigos. E existem uma ou outra história sobre os roteiros não aproveitados de Alfred Hitchcock. Uma dessas histórias Number 13, está em pré-produção (não exatamente o roteiro, mas Hitch, na Inglaterra e então com 24 anos tentando filmar o tal Número 13).
Com tudo isso reunido temos uma simulação de uma visita aos bastidores do novo filme de Martin Scorsese, ele aproveita para falar de um script perdido de Alfred Hitchcock, donde falta uma página do roteiro. O incompleto
Key to Reserva é um saboroso apanhado dos clássicos do mestre do suspense, começando com a cena do atentado durante uma apresentação de ópera presente em The Man Who Knows Too Much (O Homem Que Sabia Demais, que tem duas versões uma inglesa e preta-e-branca de 1934 e outra em 1956 americana e colorida), fechando com The Birds (Os Pássaros), no meio Dial M For Murder (Disque M para Matar), Vertigo (Um Corpo Que Cai), elegantemente embalado com trilha sonora de Bernard Herrman, pode haver outras, mas estas me escapam, qualquer ajuda é bem vinda nos comentários.
Veja o comercial logo abaixo, chamo atenção que aos 01:08 em cima de um arquivo de metal, há uma foto de Glauber Rocha. Scorcese em várias entrevistas demonstrou entusiasmo por
O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro e Terra em Transe.



Revendo agora me bateu uma vontade. Não de beber mas de ver um filme.


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Now playing: Massive Attack - Cool Monsoon (Weather Storm)
via FoxyTunes

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