sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Diálogos truncados.

No começo era uma bobagem que não valeria o esforço que levo para escrever o mais simples do posts, mas como o assunto rendeu, a situação vale um comentário.
Zeca Camargo até um tempo atrás tinha um dos melhores textos do jornalismo cultural. Hoje, o homem está envelhecendo mal, é duro ter que aguentar afetações como "mas quero só assinalar que é nossa obrigação, como seres pensantes, venerar qualquer coisa que venha do Radiohead - ou um de seus membros". Ele está falando da trilha sonora do filme Sangue Negro assinada pelo guitarrista do grupo, Jonny Greenwood, que registre-se acho genial, agora não embarco nesses chiliques. Contudo até uns dez anos atrás, suas resenhas não apenas eram divertidas quanto atualíssimas. Graças a Camargo é que li pela primeira vez de uma certa banda inglesa que lançava um disco homônimo, um tal de Portishead. Outra comentando sobre o álbum Elegantly Wasted do INXS, disse que mal podia esperar pelos próximos dois CD's do grupo, mas especificamente o 2º, afinal se aquele era uma cópia descarada de The Joshua Tree do U2, era de se esperar que chupariam em seguida o Rattle and Hum e Achtung Baby. Suas coberturas do Free Jazz acredito que do ano de 1997, o que teve Neneh Cherry e Jamiroquai, e de uma revista francesa sobre os 100 melhores singles de todos os tempos, são influências recorrentes no estilo almejado pelo signatário do blog.
Pena que a GLOBO desperdice o talento do sujeito com entrevistas ridiculamente pomposas como a de Sandy e Júnior, discutindo esse grande abalo da música pop que significou o rompimento da dupla (morri de rir com os lentos travellings, e cortes para close-up, num cenário de um palco vazio imenso, na tentativa de dar alguma gravidade solene), ou agora com essa série de matérias sobre o Japão. Se eu tivesse a chance de viajar para um país fascinante como o Japão não titubearia, agora pensar que rende interesse é outra história (numa sondagem com conhecidos a extensa maioria qualifica a reportagem como um porre).
Finda a introdução.
Na semana passada, Zeca Camargo soltou a pérola em seu blog no G1 sobre a mini-série Queridos Amigos: fui só eu que tive a impressão que minha TV aberta tinha, de repente, se transformado numa HBO?
Hehe! E Paulo Coelho também pode, de repente, se transformar em Machado de Assis (que alias também esta hospedado no G1).
Uma afirmação sem-graça, merece um comentário sem graça, cortei e colei o que ele tinha escrito e acrescentei "menos garoto, menos...".
Estranhei que o moderador do blog cortou meu post, que era obviamente gaiato. Não ofensivo. Mas é do jogo, existe o aviso que os comentários são avaliados e podem ser limados, e não recrimino, sendo ele uma persona pública, imagino a quantidade de chateação que tem que aturar. Achei desproporcional, entretanto, estes são meus critérios, poderia questionar os deles se fossem públicos, não os são, então como disse antes, aceito a retirada.
Se parasse aqui, teria apenas uma história para contar a amigos. Só que muita gente implicou com a frase, e como confessa amigos e conhecidos diletos de Zeca Camargo que acabou escrevendo um novo post, na tentativa de explicar o que queria dizer.
Se antes era um acidente de carro, agora temos trens colidindo.
Então o que Queridos Amigos tem em comum com as séries da HBO é que um personagem fala descaradamente mal da TV no programa. Menos que uma revolução isto mostra o atraso da nossa televisão. Um personagem de ficção pode falar mal da TV, ser machista, pedófilo, defender a castração de ciganos e judeus, viciado em substância ilícitas, o escambaú (e antes que alguém levante a lebre, não é que acho reprovável alguém reclamar da TV, apenas quero mostrar que a dramaturgia pode tratar qualquer tema, inclusive os repulsivos). O que não pode é ser mal escrito, coisa que ele admite que está ocorrendo, quando malha os diálogos melosos do programa.
Talvez o espanto venha porque a mesma emissora atualmente vem "recomendando" seus funcionários, inclusive os do jornalismo, a falar recorde, em vez do gramaticalmente correto recorde, apenas pela pusilaminidade de evitar qualquer vinculação com a TV RECORD, que vem crescendo de audiência, ainda que ainda nade de braçada da concorrência, a GLOBO passa por constragimentos como quando é ultrapassada na audiência nas (e só nas) noites de quarta-feira, inclusive quando transmitia um jogo do Corinthians. Não pode-se esquecer que sempre que falam sobre trabalhos pregressos os "colaboradores" (como odeio essa palavra usada neste sentido!) sempre se referem à "outras emissoras", raramente citando-as nominalmente. Já vi casos patéticos em que uma atriz numa entrevista falava de sua estréia era para todos os efeitos foi quando estreou na emissora carioca, desprezando suas atuações no SBT, que tivesse vergonha do desempenho (e bem podia ter mesmo, era um lixo, a atuação, personagem e novela), é outra história, ignorar o passado é vergonhoso.
Uma breve digressão, o que aconteceu com o Vídeo Show, pelo ao menos até a época que Márcio Garcia substituiu Miguel Falabella, era muito bom, e não falava apenas de televisão, cobria cinema, e até quadrinhos, lembro que assistiu uma matéria sobre a produção da obra-prima Marvels de Kurt Busiek e Alex Ross. Hoje não passa de um release vagabundo sobre as atrações da GLOBO (além de uma justificativa para o salário de Angélica e Fernanda Lima), não serve nem como institucional já que duvido que uma empresa queira ter sua imagem vinculada a um banana como André Marques, o eterno Mocotó de Malhação.
Seria ótimo que a TV tratasse além de si mesma, mas a própria mídia em geral, como a concessões para emissoras da parte da GLOBO, por políticos como a família Sarney no Maranhão, e a Magalhães na Bahia, ou num plano maior a aquisição de grupos midiáticos por igrejas como a Católica e seitas como a Universal do Reino de Deus. Incluindo a recente ofensiva de intimidação, através de uma infinidade de ações judiciais, de várias regiões do país, muitas com texto idêntico contra a Folha de São Paulo, e sua jornalista Elvira Lobato,que publicou uma matéria questionando a origem dos fundos da seita e vários membros dela que detêm suas concessões públicas. Só vi o assunto discutido no Observatório da Imprensa na TV Brasil e de madrugada, uma pena.
Voltando agora, ele também fala do uso de linguagem mais forte, inclusive chula. Há muito tempo que não me impressiono com crianças falando coisas como pentelho. Abordagem mais maduras de um programa que nunca passa antes das 23:00, não é um avanço, é uma possibilidade.
Não vou perder meu tempo comparando Queridos Amigos a por exemplo, Família Soprano ou Roma, é matar mosca usando uma bomba atômica, prefiro chamar atenção para o fato que Desperate Housewives que tem várias vezes mais venalidade, diálogos afiados, e personagens intrigantes, nos Estados Unidos passa em canal aberto, em horário nobre, na rede pertencente a um conglomerado que rima com família, a DISNEY.
Poderia argumentar que os Estados Unidos são mais liberais. Falso, alguns americanos são assim, mas a maioria deles é conservadora, ou não teria reeleito George W. Bush. O que explica o sucesso de Desperate Housewives? Ora o programa é excelente. Bastou isso, embora a ABC, emissora também de Lost, também está longe de ser uma HBO.
Num post mais sensato, Daniel Piza, jornalista do Estado de São Paulo discorre sobre como a televisão, infelizmente apenas e tão somente a por assinatura, oferece mais que entretenimento mais grandes opções artísticas.

Nenhum comentário: