terça-feira, 25 de novembro de 2008

Bombons com fel


Tenho uma brincadeira, um tanto cruel, com casais de amigos quando o nível de sacarina alcança níveis perigosos. Qualquer conversa comigo naturalmente se encaminha para cinema, encorajo então falarmos de comédias românticas, espero que digam seus filmes favoritos, na minha vez, declaro que Closer - Perto Demais é o filme sobre relacionamentos mais engraçado que já vi. Um tanto atordoados, eles aceitam a provocação, afinal em Closer temos mais diálogos espirituosos, e sim, é mais divertido que muitas das xaropadas que fazem sucesso por aí.
Na madrugada de domingo para segunda desta semana, por um feliz acaso acabei assistindo uma pequena gema cinematográfica de mesma lavra, Mentiras Sinceras. É dirigido e roteirizado por Jullian Fellowes, ganhador do Oscar de Roteiro Original por Assassinato Em Gosford Park. Se neste último ele oferece um estudo das classes da sociedade inglesa, desta vez ele ajusta as objetivas para um ambiente mais nuclear, o do casamento.
É um filme de atores, e o trio principal entrega performances magníficas, a começar por um de quem sou fã e já falei anteriormente aqui, Tom Wilkinson, acompanhado de Emily Watson, e Rupert Everett. Wilkinson e Watson, formam um casal bem-sucedido de Londres, uma boa casa no campo, tudo conforme o figurino, até o dia em que um elemento pertuba o acordo tácito de tranquilidade dos dois, Bill Bule (Rupert Everett), filho de um dos membros da aristocracia do interior inglês. Estou deliberadamente evitando dar mais detalhes sobre a trama, e peço ao leitor deste blog que faça a temeridade de dar um voto de confiança ao signatário, uma vez decidido a procurar o DVD na locadora, não leia a resenha. Predisponho-me a ser alugado por todo aquele que se sentiu logrado no fim das contas.
Explicada a razão do meu contorcionismo, permito-me a falar do momento final de uma cena primorosa, Anne Manning (Emily Watson), desabafa para o marido James (Tom Wilkinson), "eu não sei mais o que fazer, falhei em todos os testes que você me fez, e continuarei falhando naqueles que virão, e você sabe disso, por que continua me testando então", ele responde desolado, "eu não sei...". Outro acerto é a escolha do estilo de interpretação de Rupert Everett, seu personagem não faz a menor tentativa de estabelecer empatia com ninguém, muito menos com o espectador, a não ser num pedido gentil em sua última aparição. Torna o história mais poderosa e dá mote para outra sequência tocante.


O final de Mentiras Sinceras também me fez lembrar de outro ótimo filme (além do supra-citado Closer): O Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças, tanto porque numa forma muito particular, e mantendo uma coerência com as escolhas e estado emocional dos personagens, há um final, por assim dizer, feliz; e a mensagem final de sempre nos surpreendemos cometendo os mesmos e patéticos erros, tal entendimento nos traz menos conforto do que consolo, mas é algo plenamente humano, muito humano.
Peço desculpas mas não encontrei um trailer com boa qualidade de imagem e nem legendado em português, eis logo abaixo:


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Unusual

O signatário deste blog é um mal leitor de poesia, é um tanto surpreendente quando faz esta revelação entre seus conhecidos, que presenciaram várias manifestação do seu amor aos livros. As razões para tal merecem ser exploradas, mas não agora.
Por isso, constrangido confesso uma solene ignorância da obra de Nelson Ascher, gente gabaritada o tem como um dos grandes poetas brasileiros da atualidade, repasso o alto conceito, mas lembrando que não é meu. Tenho sim, muita admiração pelo ensaísta, que até alguns meses ocupava a PENSATA na segunda-feira da ILUSTRADA, caderno de cultura da FOLHA DE SÃO PAULO. Sentimento que só cresce a cada novo texto de seu substituto, Luís Felipe Pondé, comparar os textos de um e outro é como comparar a luz de uma lanterna e a do sol.
Minha, também é a inveja por Ascher ser tradutor de várias línguas; das corriqueiras, inglês, francês, italiano; as clássicas, latim e grego antigo; e mesmo exóticas como as eslavas. Sempre tive fascínio por esse personagem que é o tradutor, a erudição requerida, a sensibilidade para absorver a obra, a escolha das palavras, a tessitura do conjunto no trabalho finalizado.
O poema abaixo ficou conhecido por ser lido numa bela cena de Quatro Casamentos E Um Funeral, não acredito que exista alguém estúpido o bastante, mesmo que tenha visto só uma vez e há muito tempo não lembre quando, mas nas primeiras linhas até quem não conhece o filme saberá o momento em que foi declamado ( o que em idioma nerdês afetado é chamado de spoiler).
Nelson Ascher já tinha uma versão anterior na época do lançamento do filme, só que confessa que a realizou em poucas horas, agora tem-se uma versão nas suas palavras, mais cuidadosa. Numa googlada encontrei a primeira e posto depois a nova. Façam suas escolhas!

Funeral Blues - W. H. Auden

Stop all the clocks, cut off the telephone,

prevent the dog from barking with a juicy bone,

silence the pianos and, with muffled drums,

bring out the coffin, let the mourners come.

Let airplanes circle moaning overhead

scribbling on the sky the message: he’s dead.

Put crepe-bows round the white necks of the public doves,

let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,

my working week, my Sunday rest,

my noon, my midnight, my talk, my song.

I thought that love would last forever; I was wrong.

The stars are not wanted now, put out every one.

Pack up the moon, dismantle the sun.

Pull away the ocean and sweep up the wood.

For nothing now can ever come to any good.

Tradução de 1994.

Funeral Blues - W. H. Auden

Que parem os relógios, cale o telefone,
jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,
que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do caixão com seu cortejo atrás

Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto – um laço no pescoço
e os guardas usem finas luvas cor-de-breu

Era meu Norte, Sul, Leste, Oeste, enquanto
viveu, meus dias úteis, meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana

É hora de apagar estrelas – são molestas,
guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.

Tradução de 2008.

Blues Fúnebres - W. H. Auden

Detenham-se os relógios, cale o telefone,

jogue-se um osso para o cão não ladrar mais,

façam silêncio os pianos e o tambor sancione

o féretro que sai com seu cortejo atrás.

Aviões acima, circulando em alvoroço,

escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.

Pombas de luto ostentem crepe no pescoço

e os guardas ponham luvas negras como breu.

Ele era norte, sul, leste, oeste meus e tanto

meus dias úteis quanto o meu fim-de-semana,

meu meio-dia, meia-noite, fala e canto.

Julguei o amor eterno: quem o faz se engana.

Apaguem as estrelas: já nenhuma presta.

Guardem a lua; e o sol também foi o bastante.

Recolham logo o oceano e varram a floresta.

Pois tudo mais acabará mal de hoje em diante.


Atualizando:
Pensando neste post, o signatário do blog notou um desleixo, por que não incluir a cena onde é lido Funeral Blues em Quatro Casamentos E Um Funeral? Para compensar tal negligência, procurei um vídeo que tivesse legendas em português. Ei-lo.

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Now playing: Leonard Cohen - Ain't No Cure For Love
via FoxyTunes

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O mestre grilo responde

Pergunta do pupilo em vermelho:
E aí "Master of the nerds", concorda com este post? http://hitnarede.com/2008/11/shit-happens-musica-boa-clipe-ruim/

Respondo em azul:
Jovem gafanhoto (gosto da analogia, ainda mais que, na ponta do lápis, você é mais velho que eu), minha opinião é esta: acho uma asneira.
Penso que espera mais que uma sentença seca, se estou enganado, não precisa ler/ver o que segue. Repito a resposta acima só que mais elaborada.
Primeiro ponto, é polêmica vazia, e pior, vazia e preguiçosa, o sujeito só elencou 3 VÍDEOS para sua tese. Escrever um texto divertido exige esforço e bagagem cultural. Para comparação veja 2 listas que li recentemente (infelizmente, ambas em inglês), 18 cenas difíceis de ver, e os 50 maiores vilões da literatura. Neste último, poder-se-ia dizer que a escolha do primeiro lugar é óbvia, mas a fonte pinçada, revela a classe da seleção; enquanto na primeira lista, levou-se em conta não apenas a violência, mas o absurdo também, como a esnobada de Hugh Grant dá em Julia Roberts em Nothing Hill.
Segundo: para Cler Oliveira, uma música boa, dificilmente terá um clip bom, até é razoável a conclusão, só que o contexto correto é, mais raro ainda será que uma música ruim consiga um clip digno. E o conceito dele para música legal é para lá de largo, não? Take That!? Bon Jovi!!??
O U2 entrou na roda. Aí temos uma divergência frontal, para começo de conversa acho as capas do grupo muito acima da média, as de Achtung Baby! e Zooropa são espetaculares, se prestar atenção, é possível rastrear as influências dos álbuns pela arte estampada.


Não morro de amores pela a de All That You Can't Leave Behind, lembra mais um anúncio de revista do tipo Variety, mas é de inegável bom gosto!


Começando a falar sobre videoclips, na mesma linha de Stuck In A Moment (o qual gosto, registre-se), o clip com "lirismo" e "mensagem", o belo Walk On:


Que tal este em que Mary J. Blige canta One, acompanhada dos irlandeses. Ela e a banda, tocando num palco, filmado em preto-e-branco. Não precisa de mais nada!


E quanto a Window In The Skies, onde (mal) aparecem integrados na multidão, é absolutamente certeira na empatia com qualquer um que já se emocionou com música, qualquer música, e venhamos e convenhamos, juntando David Bowie, Frank Zappa, Vladimir Horowitz, Nat King Cole, Frank Sinatra, não tem como dar errado.


Nada mal para quem só dá bola fora, na ótica do Cler Oliveira.
E qual o problema como clip com historinha? Irreplaceable da Beyoncé leva zero em criatividade, e daí? Continua muito divertido.


O mesmo vale por exemplo, com James Morrison em Wonderful World.


O arremate final é com o Duo do qual nunca ouvi uma música ruim, e clip meia-boca, THE WHITE STRIPES.
Conquest:


Fell In Love With A Girl:


Concluindo com a soberba, Seven Nation Army:

sábado, 1 de novembro de 2008

Como o Dr. House tornou minha vida senão menos miserável, mais divertida: CENA I

-Tu não vai se aprontar para o aniversário do G.?
-Eu não vou.
-Como não vai? Por quê?
-Ele não me mandou o convite.
-O G. só tem um ano.
-E também não vai se incomodar se eu não for.
-Mas tu tem que ir...
-Por quê?
-Toda comida daqui foi mandada para a festa, e a C. vai ficar magoada...
-Então: ela ficaria menos insultada se eu aparecesse lá apenas para comer, do que se eu simplesmente não ir?
[suspiro]-Eu trago um pratinho mais tarde.
-Acho bom. Mas não precisa ser logo, não quero que você perca nada dessa festa.
-Idiota!!

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Now playing: The White Stripes - The Hardest Button to Button
via FoxyTunes