quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Fazendo um agrado.

Este post é um legítimo pedido da audiência. Um leitor do blog sugeriu que discorresse sobre a montagem nos cinema. É importante deixar claro que não sou profissional, e nem estudioso do assunto, só sou uma cara que gosta muito de filmes, assistiu uma boa quantidade deles e acredita ter uma base, e cara-de-pau para este achismo displicente, por isso peço desculpas, não tenho base para uma explanação acadêmica ou histórica, e serei omisso com muitas das referências obrigatórias dessa incrível parte da carpintaria cinematográfica.

Tenho a tese furada de que a montagem é conseqüência da criação longa-metragem em ficção. No começo, o cinema era basicamente o registro do cotidiano, basta lembrar dos filmes dos irmãos Lumiére como Chegada do trem à estação, ou Saída dos operários da fábrica. A câmara ficava estática, distante, tentando manter um amplo foco enquadrando todo o cenário. Não nos esqueçamos que desde início o equipamento era muito caro, e pesado. Os realizadores pioneiros não se podiam dar o luxo de filmar seqüências com várias câmaras, nem tinha rolos de filme para jogar fora, além de que o “cameraman” operava manualmente o dispositivo. O sujeito não se animaria em se esfalfar filmando várias tomadas. Um perfeccionista como Charles Chaplin era o tormento das equipes dos estúdios, na sua obsessão em filmar dezenas, até centenas de takes.

Logo se atentou que filmes poderiam ser usados para contar histórias, mas ainda não existiam os códigos, hoje plenamente consolidados. Num documentário sobre os primórdios do cinema vi um Assalto na feira. Em pouco menos de 10 minutos, num plano seqüência (sem cortes), um grupo de 50 pessoas, num cenário que reproduzia um mercado de rua. Muita confusão, gente indo de um canto a outro, a câmara, sempre distante e parada, não permite entender o que ocorria, pelo menos, até o final, quando todos correm atrás de um menino segurando um porco.

Revendo o filme, aí sim, se percebe que no canto direito, o garoto tenta todo o tempo aproveitar uma distração dono do porco, para roubá-lo. Nenhuma indicação é dada para que atente que este é o único plot que interessa à história.

Hoje parece risível mas as primeiras audiências não conseguiram decodificar digamos, três cenas, óbvio, exibidas em sequência, na primeira alguém é convidado para de uma festa de aniversário, este explica que não tem o presente. Corte. O sujeito está numa joelharia e compra um relógio. Corte. Festa, ele entra e dar o presente para a aniversariante. No começo não havia a gramática que faria a platéia deduzir, que o rapaz saiu para comprar a jóia e depois entrega a moça. A montagem também necessitava ser assimilada, eis a contribuição de David Wark Griffith.

Como falei anteriormente, acredito que a montagem surgiu com os longa-metragens, que são um criação de D. W. Griffith. Quer dizer, é tanto criação de Griffith quanto a imprensa é de Johannes Gutenberg. A impressão, tipos móveis, tipo móvel de metal, já existiam antes de 1455, da mesma forma cortes, focos, planos, lentes angulares, em 1915, quando o americano filmou O Nascimento da Nação. O que ambos inventaram é o método que se tornariam paradigma.

Pense no seguinte roteiro:

“Marido chega em casa cansado, senta na poltrona da sala e tenta ler o jornal, sua mulher começa a discutir sobre as amenidades, o homem só quer um pouco de sossego, tenta várias vezes recomeçar a leitura, mas sempre é interrompido. A tensão cresce, lentamente ele se levanta vai na direção de uma gaveta, abre. Do lado do pacote com aspirina está um revólver, por um instante hesita, e por fim pega o remédio soltando um suspiro”

Numa peça de teatro, o ator teria que exagerar no gestos, desabaria na poltrona, pegaria e soltaria o jornal compulsivamente, na indecisão sobre qual coisa pegar na gaveta, seria histriônico, puxando, sem a mulher ver a arma, e o remédio, um depois o outro, cada vez mais rápido e histérico. Isso porque ele precisa nos direcionar o olhar. Num palco, vários metros longe da platéia, tem que supervalorizar seus atos.

Já num filme, por exemplo, podemos ter uma imagem sempre voltando para a manchete do jornal, demonstrando a tensão do casal em cortes acelerados para os rostos dos dois. A dúvida dos objetos na gaveta, close nos dois, suaves transições com a mão segurando um, depois o outro, um, depois o outro, um, depois o outro.

É a mesma cena, contudo os recursos de montagem, possibilitaram uma gama maior de tensão. Alfred Hitchcock, que dizia que o suspense é a expansão até o limite do insuportável de um momento de tensão, não funcionaria no meio teatral. Ele precisava desses recursos que mencionei.

Quem deu grande contribuição teórica (não menor que a prática) foi o cineasta russo Serguei Eisenstein. Defendia que a forma que a montagem é feita, por si só contribuía para como a enxergaríamos, a obra. É emblemático a seqüência em seu grande clásssico, O Encoraçado Potemkin, em que primeiro aparece a estátua dum leão deitado, depois outro que levanta a cabeça, por fim um em pé urrando, representando o levante popular. Não esquecendo da cena da escadaria de Odessa.



Repare que não aparecem o rosto dos cossacos, tal como na pintura de Goya.

Citando o Encoraçado Potemkin, é obrigatório lembrar da homenagem prestada em Os Intocáveis de Brian DePalma .



Não nego um certo tendecionismo, mas para mim ninguém alcançou a elegância das montagens dos filmes de Stanley Kubrick, nem mesmo o mestre Hitchcock. Eis meus argumentos:



Maravilhoso!

Em 2001 - Uma odisséia no espaço, tem o mais belo corte da história do cinema.



Percebeu? O macaco lança um pedaço de osso, e o que "cai" é uma nave espacial. A primeira ferramenta e a mais sofisticada, numa fração de segundo. Toda a história da humanidade cabe aí. Na seqüência o balé das naves no espaço ao som do Danúbio Azul de Strauss. Espetacular!



Como o post já esta muito grande fecho com um dos meus filmes favoritos. A montagem teve um senhor desafio em dar coerência a um filme que é contato de trás para frente, só vendo inúmeras vezes podemos comprovar o notável trabalho realizado aqui. Efusivamente recomendo Amnésia de Christopher Nolan (e todos mencionados anteriormente, é claro)



Bom divertimento!


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terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Ludopédicas

No último domingo houve o grande clássico do campeonato de futebol do meu estado Fortaleza x Ceará. Quem ganhou, quem foi o herói, o vilão, o juiz foi tendencioso ou equilibrado, errando de forma crassa para os dois lados? Nada disso importa. Fica menor quando se ouve histórias como a de um casal que ia numa moto para o jogo, atacado à pedradas, por vestir a camisa de um dos times. Não acaba aí, a mulher, estava armada e revidou atirando em seus agressores. Diz o gracejo que mulheres nunca entenderam a lei do impedimento, parecem que pragmáticas, tentam primeiro chegar vivas ao jogo.
O clima de animosidade é perene. Desde da compra do ingresso (caro), em poucas e desorganizadas bilheterias, ou sendo acossado pelos cambistas. Antes de entrar no estádio, a polícia faz revista nos indivíduos atrás de armas, rojões e bebidas alcoólicas. Em outros eventos, também há uma rotina de segurança, mas não tão minuciosa. Passando por isso, não se tem conforto, área para lanches, banheiro limpos. Não se pode nem tentar apenas ver a partida, a qualquer momento uma das facções da organizada entra em atrito com a rival, mesmo a do mesmo time, e a polícia tenta conter os focos de briga mais atrapalhadamente, só faz aumentá-la.
Fim do jogo não traz alívio, começa uma batalha para tentar voltar para casa, entre os piquetes da tropa de choque e torcedores. Se você foi de carro, é bem possível que acabe depredado, se foi de ônibus, o martírio é maior, a muito tempo que os empresários das empresas decidiram não oferecer carros extras, e só a canalha inconseqüente e/ou vendida da crônica esportiva, tem a pusilâminidade de falar contra.
Estranho que as equipes se apresentaram com os uniformes baseados nos clubes que lhe deram origem. O Fortaleza, antes era o Stella, já o Ceará, Rio Branco, ambos fundados e extintos na década de 1910, por uma dessas curiosidades do esporte, nunca se enfrentaram nessas designações primevas. Não soube de nenhuma dessas efemeridades que mereceriam homenagens, mas valeu pela idéia simpática.
Agora, teve um gosto amargo pelas camisas continuaram a expor o nome dos patrocionadores. Seria um gesto elegante pelo menos a foto oficial do jogo fosse com uma versão alternativa com a recriação dos uniformes "limpos". Particularmente achei estranha a camisa do Rio Branco em branco e lilás (lembra um pouco a camisa da Fiorentina, na Itália) com a logomarca RABELO estampada. A do Stella, ficou visualmente mais agradável, a patrocionadora SANTANA TÊXTIL, adaptou-se pra que não entrassem em choque com a camisa, usando o vermelho, uma das cores do brasão. Agora nada conseguiria salvar o desastre que é ter escrito Kanja, num uniforme, a menos que trabalhe num restaurante.
Seria exagerado esperar dos patrocinadores abrissem mão da exposição durante jogo, afinal hoje o futebol é negócio. Não acho que seja algo irreversível, mas hoje, é mais que necessário perceber que como esse esporte gera muita renda, que os jogadores, clubes, e sim, os dirigentes, desde que mais que honestos, também profissionais, tenham acesso a parte do lucro.
Só desejaria que existisse mais bom-senso. Nenhum clube brasileiro faz escolhas tão erradas como o Corinthians, pulo a associação com a MSI pela redundância, mas basta lembrar a horrenda camisa da época da Tintas Suvinil. Ou ainda com o patrocínio com a Batavo, com a Embratel para estampar DDD. Agora as coisas melhoraram um pouco, a Medial Saúde aceitou trocar a cor oficial da marca, pelo preto (patético a histeria dos cartolas do Timão, dizendo que "esse cor", era "daquele time", bastava dizer serenamente, verde e Palmeiras, respectivamente, explicando que não casava com a tradição do clube)
Há casos que o patrocínio praticamente se integrou a camisa. Tenho dificuldade em imaginar o Flamengo sem a Petrobrás. Não tenho tanto entusiasmo, mas gosto da versão do "smiley", que a LG usa como marca no São Paulo, porém, o Habib's com seu amarelo-ovo e gênio sorridente são deslocados.
Tem coisas engraçadas como Eurico Viana se indispôndo com Deus e o mundo, e durante um longo período o Vasco tinha a mais linda camisa do Brasil, só o branco com a faixa negra e a Cruz de Malta. Pena, para no final o clube aceitar dinheiro do BMG, banco envolvido em falcatruas como o mensalão.
Mas o caso mais deplorável é o de clubes tradicionais como o Milan e o Real Madri que estampam um site de apostas, o Bwin. Como encarar esses times, e seus jogadores e não tem um ponta de desconfiança sobre se são ou não perniciosos.
Agora uma atitude antipoda não me parece louvável, caso do Barcelona que faz propaganda do UNICEF. Pelo direito de promover a Fundo das Nações Unidas para a Infância, o clube catalão não paga nada. Que feio, se promovendo às custas das criancinhas!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Urbanidade em falta

Este assunto será discutido com mais autoridade pelo meu amigo Márcio Aguiar em seu blog. Ele advoga em casos de responsabilidade e direito civis, além do direito do consumidor. Em um caso de seu escritório atendeu um cliente que num supermercado, escorregou no chão molhado, sem placas de aviso, de uma seção. Há um toque melodramático, o sujeito se recuperava de uma operação de menisco, tendo com o acidente retroagido em seu tratamento, além do constrangimento público; Márcio me contou que caído, seu cliente urinou de dor.
Conversando sobre o assunto comentei, "não me interprete mal, mas acho que isso é um sinal de que somos um sociedade que caminha para ser regida por advogados"; brincalhão e corporativo ele retrucou, "eu acho isso ótimo". Expliquei-me, que não eximia a responsabilidade da loja por não sinalizado adequadamente a área, mas e a do indivíduo que convalescendo e descuidado se expõe a esse risco? Mais, lamentei que um caso desses, teve que ir a julgamento, quando o reconhecimento de erros e desleixos entre as partes, poderia levar um acordo amigável.
Numa sociedade ideal, observando suas peculiaridades, se o cidadão tem uma questão a ser resolvida, ele deveria procurar o médico logo no início, o advogado quando esgotadas todas as possibilidades. Como disse Shakespeare, só ri das cicatrizes, quem nunca se feriu, não estou fazendo deboche de quem tem um problema, mas lastimo cada vez menos haja diálogo entre as pessoas, entupindo os tribunais. Não é errado, pois o fórum adequado para tentarmos a reparação naquilo que pensamos que nos é de direto é a Justiça. Com certeza é um caminho legítimo, mas, e aqui vai uma opinião minha, que não é raro, desnecessariamente complicado. Falei anteriormente em sociedade ideal, estamos longe disso, somos uma sociedade que chamo anfetamínica, lembra do exemplo que usei para o médico, pois bem, preferimos nos auto-medicar.
Sinto uma falência na convivência com o outro. Talvez o melhor exemplo seja esses programas que pipocam na TV. Gente em arengas por ninharias, com aqueles que tem mais intimidade, familiares, vizinhos, colegas de trabalho. Aqueles que nos são mais próximos, e deveriam gerar o sentimento de generosidade. Pior é o ridículo que expõe em rede nacional, pérfidamente anabolizado por apresentadores sem escrúpulos como Márcia Goldschimidt e Luciana Gimenez.
Em tempo, A juíza substituta da 5ª Vara de Fazenda Pública de Salvador, Aidê Ouais, anulou a eleição do Rei Momo do Carnaval baiano. Clarindo Silva perdeu a coroa porque pesa apenas 58 kg. A juíza disse que a população está acostumada com um Rei Momo gordo - e que a tradição tem de ser mantida. Um novo concurso para Rei Momo será realizado. Só com gordos concorrendo. Quem deu início a ação foi um grupo de gordos, que profundamente ofendidos com o fato procurou o Ministério Público. Termino com dois comentários, não seria menos estúpidos esses gordos procurarem afogar suas mágoas se empanturrando num rodízio; e carnaval não deveria ser uma manifestação da brincadeira, quebra simpática de regras e paradigmas? Um rei momo magro pode não ser uma piada lá muito original, mas é uma piada.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Estendendo o assunto



O post anterior me deu a idéia de reunir algumas histórias de Alfred Hitchcock. O diretor não apenas nos legou clássicos do cinema, mas vários casos pitorescos para além do "atores são gado". Eis os que considero mais divertidos ou curiosos.
  • Atores davam muita dor de cabeça a Hitchcock (Janet Leigh ficou menstruada quando foi filmar a cena da banheira em Psicose o que atrapalhou o cronograma em uma semana), talvez explique a frase atribuída à ele de que atores são gado. A vida toda negou, tentou se corrigir dizendo: "O que eu disse é atores devem ser tratados gado (muito gente ficou ofendida, como Orson Welles, mas em sua defesa James Stewart declarou: "Então ele é o maior cowboy que conheço).
  • Outra sobre atores: "Tenho inveja de Walt Disney. Quando não gosta de um ator, simplesmente o apaga"
  • "Nenhum diretor é melhor que seu roteiro", "Eu apenas rodo um roteiro pré-montado. Poderia ter dirigido Disque M para Matar pelo telefone", "Não me interesso pela temática, ou pelo ato de encenar, mas pela seqüência de um filme. Ou melhor pelos ingredientes técnicos que possam fazer uma platéia inteira gritar", Hitchcock chegava a dormir no set (outra frase de James Stewart, "Com Hitch, havia apenas um jeito de fazer a cena - o dele).
  • Nos sets de Quando fala o coração, Ingrid Bergman pediu para discutir o personagem e ele disse: "Está no roteiro". "Mas qual é minha motivação?" "Seu salário". Em outra ocasião ela insistiu: "Eu não me sinto como o personagem", alegou. "Então simplesmente finja".
  • Paul Newman em Cortina Rasgada que desenvolveu um método de interpretação, teve como resposta: "Faça o que quiser. Há sempre a sala de edição" (de Kim Novak, estrela de Um Corpo que Cai, "Quando ele está gostando do seu trabalho, não fala nada; e se não gosta continua mudo, só que te olha com aquela cara de quem está prestes a vomitar).
  • Durante um teste uma atriz iniciante perguntou qual era seu melhor perfil. "Você está sentada em cima dele", retrucou.
  • "Não gosto do objeto sexual óbvio, tipo Marilyn Monroe e Jean Harlow, que tem sexo escrito na testa", "Se eu fizesse um filme com Monroe, ela teria que começar como uma freira" (preferia mulheres de aparência clássica como Grace Kelly, a quem, como muito de suas estrelas, impunha fazer um strip-tease diante uma janela, enquanto ele a observava de binóculo numa casa em frente).
  • "Não quero que meus filmes sejam pedaços da vida, prefiro que sejam vistos como deliciosos pedaços de bolo de chocolate".
  • Claro que para isto deviam respeitar uma regra: "A duração de um filme deve estar diretamente relacionada a capacidade de tolerância da bexiga humana".
  • Até sua morte em 1980, carregou a mágoa por nunca ter ganho um Oscar (concorreu cinco vezes por: Rebecca, Um barco e nove destinos, Quando fala o coração, Janela Indiscreta e Psicose): "Meus filmes passam de fracasso a obras-primas , sem chegar a ser sucessos", um exagero, quase todos seus filmes eram campeões de bilheteria, só Psicose, rendeu-lhe 15 milhões de dólares, no primeiro ano, se isso ainda hoje é muito dinheiro, pense o quanto seria em 1960.
  • "Fui educado pelos padres, com eles aprendi o medo", e também com o pai, o pequeno Alfred então com 4 anos fez alguma peraltice, seu pai lhe mandou à delegacia com um bilhete na mão. O policial olhou para ele com um ohar sinistro e o trancou numa cela. "É isso que fazemos com meninos levados!", ouviu. Fiquei lá por cinco minutos o suficiente para ter pavor de guardas até hoje".
  • Ele gostava de inventar um pretexto e ligar para pessoas que não o conheciam, como jovens escritores e roteiristas, e se anunciar: "Aqui fala Alfred Hitchcock" - apenas para saborear os segundos de hesitação (ou de suspense) do outro lado da linha, sabendo que a outra pessoa não acreditaria de saída que fosse o próprio.
Para fechar, uma cena doméstica: certa noite encontrou a esposa Alma (sério esse era o nome de sua mulher), fazendo o jantar. "Preparava um suflê e Hitch bateu as claras para mim". "ele observou como misturei o queijo, e coloquei o pirex, delicadamente, no forno. Quando liguei o cronômetro, percebi que meu marido não tirava os olhos do forno.". "aqui está o drama", cochichou ele. "O que está acontecendo atrás daquela porta?". Finalmente o relógio tocou. "O suflê estava perfeito - e meu marido uma ruína". "Nada mais de suflês", anunciou Hitchcock, "até que tenhamos um forno com porta de vidro."

As informações, citações e dados acima foram extraídos do artigo O diretor que sabia demais, de Suzana Uchôa Itiberê para revista SET, edição 127 - Ano 12, de janeiro de 1998; e do livro Saudades do Século XX, de Ruy Castro, editado pela Companhia das Letras, em 1994.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Freixenet Navidad 2007, ótima safra!

Tenho uma dificuldade intríseca com comerciais . Explicando melhor, burro não sou, sei para que servem, estão perfeitamente inseridos no contexto de uma sociedade capitalista; e candidamente acredito que funcionam, ou não gastariam tanto dinheiro neles.
Meu problema é como funciona o mecanismo de alguém ver uma propaganda e decide pelo produto. Zeca Pagodinho, por exemplo, é um bebum a quem não confiaria nem para vigiar leite no fogão, e logo quem a
Brahma escolhe para propalar que todos podem começar a entornar umas já no meio da semana. José Wilker, grande ator, inteligente, bom crítico de cinema, e (para minha inveja) com uma baita sorte com as mulheres, agora desconhecia seus talentos como endocrinologista para recomendar aos outros Zerocal como adoçante. E quando Rodrigo Santoro diz que existem 120 razões para ser cliente Bradesco, para mim bastava uma, ser melhor que os outros bancos. Agora me causa ojeriza quando começa a cantilena de "banco do planeta", Greenpeace, WWF, PETA, S.O.S. MATA ATLÂNTICA, podem jogar pedras, mas prefiro que em vez de ajudar na procriação das baleias jubarte, que contratassem mais caixas para que fosse atendido mais prontamente.
Agora, há comerciais que chamam-me atenção para além de minha perplexidade, curiosos merecem uma segunda olhada. Como o de uma vinícola espanhola que contratou o diretor americano, Martin Scorsese, realizador de clássicos como
Taxi Driver, Touro Indomável, Os Bons Companheiros e Os Infiltrados (por qual ganhou o Oscar por direção cinematográfica) para divulgar a safra de 2007.
O primeiro acerto da peça publicitária foi evitar a suprema cretinice de bolar algo como Scorcese num restaurante fingindo conversar descontraído com amigos vem um garçom, serve o vinho, mal sorvendo a bebida, o diretor entre o espanto e êxtase diz: "eita, que esse vinho é bom mesmo!". O garçom dá uma piscadela e fala num tom meio maroto e de suave recriminação: "e o senhor, hein! que queria um
Beaujolais". e todos no restaurante caem na risada.
Houve a sensibilidade de criar um enredo, ou na linguagem cinematográfica, um plot (e bem mais sofisticado do que aquele onde Ronaldinho Gaúcho sai correndo por toda uma cidade atrás de um desodorante Rexona) aproveitando as especificidades e algumas lendas sobre Scorsese e Hollywood. É folclórico o conhecimento e memória do cineasta ítalo-americano, tanto que lhe rendeu vária menções de outro reconhecido nerd do assunto, Steven Spielberg, um documentário espetacular, A Personal Journey with Martin Scorsese Through American Movies (sei que foi lançado no Brasil como Uma Viagem Pessoal pelo Cinema Americano, em VHS, desconheço versões em DVD). além disso conduz um instituto que restaura e conserva filmes antigos. E existem uma ou outra história sobre os roteiros não aproveitados de Alfred Hitchcock. Uma dessas histórias Number 13, está em pré-produção (não exatamente o roteiro, mas Hitch, na Inglaterra e então com 24 anos tentando filmar o tal Número 13).
Com tudo isso reunido temos uma simulação de uma visita aos bastidores do novo filme de Martin Scorsese, ele aproveita para falar de um script perdido de Alfred Hitchcock, donde falta uma página do roteiro. O incompleto
Key to Reserva é um saboroso apanhado dos clássicos do mestre do suspense, começando com a cena do atentado durante uma apresentação de ópera presente em The Man Who Knows Too Much (O Homem Que Sabia Demais, que tem duas versões uma inglesa e preta-e-branca de 1934 e outra em 1956 americana e colorida), fechando com The Birds (Os Pássaros), no meio Dial M For Murder (Disque M para Matar), Vertigo (Um Corpo Que Cai), elegantemente embalado com trilha sonora de Bernard Herrman, pode haver outras, mas estas me escapam, qualquer ajuda é bem vinda nos comentários.
Veja o comercial logo abaixo, chamo atenção que aos 01:08 em cima de um arquivo de metal, há uma foto de Glauber Rocha. Scorcese em várias entrevistas demonstrou entusiasmo por
O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro e Terra em Transe.



Revendo agora me bateu uma vontade. Não de beber mas de ver um filme.


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Now playing: Massive Attack - Cool Monsoon (Weather Storm)
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domingo, 13 de janeiro de 2008

Pague para não ver

Caro leitor, contenha o esgar ao terminar de ler a frase seguinte. Destacado para cobrir as filmagens do mais recente filme de Xuxa, pela revista SET, em determinado momento o repórter a define como perfeccionista.
Se for verdade a existência dela deve ser miserável. Pense comigo, ainda se pudesse dizer que seu trabalho é espectacular, ainda assim viveria angustiada. como é um lixo, nem deve se olhar no espelho.
Agora sem graça é lembrar que na sua busca de seu pináculo artístico, a auto-intitulada rainha do baixinhos faça com o nosso dinheiro, dinheiro público advindo da dedução de impostos da Lei Rouanet de incentivo à cultura. Não esqueça que isso só é possível com a anuência da Agência Nacional de Cinema, ANCINE. Recupere o fôlego, um funcionário do Ministério da Cultura, MinC, asseverou a relevância e representatividade brasileiras na película.
Foi assim com esse filme e praticamente todos os outros lançados no país. É verdade que fora do cinema americano, todos os Estados patrocinam seu respectivo cinema nacional. O que tal como a jabuticaba, só existe aqui é o filme que ainda que ninguém veja já esta pago, e não por seus produtores. O caso mais acintoso é o de Guilherme Fontes com seu Chatô - o rei do Brasil, começaram a rodar em 1997, torrou mas de 14 milhões de reais e o filme não está pronto! Fontes ainda tem a petulância de pleitear mais dinheiro para rodar mais cenas e montagem.
Cinema é um troço caro, deve ser feito para dar retorno, que fique claro, retorno financeiro, e por um conjunção especial dos astros, e vá lá, com algum talento dos envolvidos pode ser arte. O primeiro elemento dessa fórmula é fixo (cinema é caro, mesmo que se filme com camêras digitais, algum momento haverá transferência para película, e o custo pesado é na divulgação), os outros se balanceia.
Outro elemento a ser considerado é que filmes dão prejuízo, todos, mesmo sucessos como Tropa de Elite, A Grande Família, Cidade de Deus, não empatam os custos. Aí que aumenta a responsabilidade daquele burocrata do MinC que falei anteriormente. E a consumidor também. Tenho uma teoria sobre como Xuxa atrai público. Os pais vêem no jornal que o filme é censura livre e arrasta as crianças. Nunca me esqueço de uma amiga minha falando que estava com a filha de 6 anos, e decidiram ver um filme. Temporada de férias, ela, a mãe escolheu Xuxa Popstar, meia-hora de filme, a menina perguntou se faltava muito para o fim. É simbolico que chegou a hora que nem a GLOBO tenha paciência para meia-hora de Xuxa, nesse ano ela perdeu seu programa. Dava prejuízo, e como era dinheiro privado que dessa vez quem pagava as contas...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Essa ele só perderia para ele mesmo, e bem que ele tentou

Sabe aquela história que até um idiota poderia ser bem sucedido comandando a Seleção Brasileira. Pois é, como se não tivesse nada mais importante que fazer (como impedir jogos ao meio-dia, o que acontecerá no campeonato paulista neste ano, para atender os interesses da televisão, oferecer condições decentes para os campeonatos nacionais da segunda e terceira divisões, por exemplo), a Confederação Brasileira de Futebol, CBF, tal como os Mythbusters do canal DISCOVERY, resolveu tirar a limpo essa lenda urbana. Admita-se, empenharam bem para achar esse idiota. Agora que o experimento se mostrou bem sucedido, é torcer para que mandem ele pastar e chamem alguém decente.
Isso mesmo, ontem Dunga foi eleito o melhor técnico de 2007. A escolha foi realizada pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS), ligada a FIFA. Para diminuir sensivelmente o constrangimento, explica-se que na votação, comandada pela IFFHS, só participaram técnicos das seleções. Como epítome de sua condição de Joselito declarou, "só o fato de ter sido relacionado já demonstra o respeito que existe pelo meu trabalho. Ser escolhido o melhor, então, me motiva ainda mais na seleção".
Num breve retrospecto, cabe lembrar que até o convite de Ricardo Teixeira, Dunga nunca dirigiu um time, ganhava a vida comentando futebol para a BAND e como palestrante em convenções de empresa. Já naquela época imaginava o martírio que deviam ser suas apresentações motivacionais, dado como penava para dar uma simples opinião nas mesas redondas capitaneadas por Luciano do Valle.
Não tenho palavra melhor para sintetizar o trabalho de Dunga que não seja constrangimento, próprio ou impingido a outros ao seu redor. Como explicar embaraço que expõe seus atletas, como na Copa América ano passado, tornando público as cartas de dispensa de Kaká e Ronaldinho Gaúcho. O aperto em armar o time de maneira covarde, lotando o meio campo para parar as jogadas. Nas entrevistas coletivas, compra brigas com os jornalistas e no jogo das eliminatórias no Maracanã, atacou a torcida.
Constrangimento, sim, toda a prepotência murcha quando voltado contra quem realmente mais que atrapalha, mas mancha o futebol brasileiro, o senhor Ricardo Teixeira, presidente da CBF. Não é a toa que Juca Kfouri, um dos poucos jornalistas no país que honram sua profissão o chama de "a voz do dono". Vítor Birner, seu pupilo, tem uma alcunha ainda mais feliz: trainee, um cargo acima do estagiário, um abaixo do profissional.
Nesse ano de Olimpíadas, torço sinceramente para que a seleção não chegue a medalha de ouro. É constragedor ver esse modelo progredindo.


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Now playing: The Chemical Brothers - Out of Control
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terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Sorte irlandesa.

"Não diria que é o inferno, mas em oito oportunidades eu teria recebido o inferno de bom grado. Fui alvejado por morteiros, fuzis e metralhadoras. Nunca me atiraram uma granada de mão, mas uma granada de fuzil explodiu bem perto. Ter saído de toda aquela confusão sendo só atingido um morteiro e uma bala de metralhadora, como dizem os irlandeses, foi muita sorte".

O trecho acima é de de Ernest Hemingway (escritor americano, 1899-1961), escrito num hospital militar italiano em 1918, endereçado à família ( Hemingway serviu como voluntário na 1ª Guerra Mundial).
Cartas do front da 1ª Guerra mundial são a grande idéia do blog WW1 (infelizmente, somente em inglês). Os posts são as correspondências de um soldado inglês, William Henry (Harry) Bonser Lamin, atualizadas na medida que ele próprio escreveu exatos 90 anos. Harry Lamin escreveu aos seus irmãos mais velhos, no dia 30 de Dezembro e 1917, donde estava locado, na Itália. Talvez não haja mais cartas, não é informado se Lamin voltou para casa ao final, ou morreu durante os confrontos.
O real responsável pelo blog garante a veracidade das cartas. Conhecendo as coisas do mundo, e da internet, é possível que tudo não passe duma armação. Não importa, é muito interessante e bem feito.
A 1ª Guerra que seria aquela que acabaria com todas as outras, foi na verdade o semeadouro dos principais conflitos o século XX. Começou reacendendo as tensões milenares das diferentes etnias do Balcãs, até então amainadas dentro do Império Áustrio-Hungaro, arrastadas até os anos 90 do século passado com a Guerra da Iuguslávia, e ainda hoje com um receio palpável de novos problemas com a decisão de Kosovo declarar independência da Sérvia . Durante o conflito aconteceu a Revolução Russa, que dividiria o mundo no xadrez geopolítico da Guerra Fria. E claro com os humilhante termos de rendição da Alemanha, propiciaram o caldo político que levaria Adolf Hitler a chancelaria.
Em seu livro, Uma História da Guerra (Companhia das Letras, edição de bolso R$29,00), o historiador militar inglês John Keegan fala que o uso pela primeira vez de à época, novas armas como a metralhadora, tanque, avião, gás mostarda, sarin, cloro, elevaram a mortandade em batalhas que geralmente beirava a 20% das companhias, para até 85%. O Exército francês teve que aposentar seu tradicional uniforme por outro de cores mais sóbrias, o azul, vermelho e branco tornava os soldados alvo fácil, para os agora eficientes e mortais fuzis de assalto.
Até então cada geração das famílias européias sempre havia algum membro que era veterano de guerra. No início dos anos 1920 cada família européia tinha um alguém que morreu na guerra.

Foto de Harry Lamin

sábado, 5 de janeiro de 2008

Não vi e não gostei (ainda que seja bom), ou um panegírico da alienação

Galdino, um grande amigo, infelizmente falecido, tinha uma ótima troça sobre 2 Filhos de Francisco, a cine-biografia de Zezé de Camargo e Luciano: "Existem duas coisas decepcionantes em 2 Filhos..., uma é o própria fato do filme existir, a outra é que o filme é realmente bom". Quanto a mim, não assisti quando estava em cartaz nos cinemas. Nem quando lançaram em DVD, embora a pedido de minha mãe, minha irmã tenha alugado o disco. Houve até uma situação pitoresca, num final de semana, tinha pego uma batelada de filmes, incluindo Zaitochi (de Takeshi Kitano), Conflitos Internos (série policial de Honk Kong, donde se baseou Os Infiltrados), e não é que o atendente se enganou e em lugar de Hotel Ruanda pôs 2 Filhos...., quando notei o engano a locadora já estava fechada, na manhã seguinte, logo cedo fui trocar.
Não tenho TV por assinatura, portanto não vi quando exibido no TELECINE. Agora na última terça passou em rede aberta, na hora estava em casa e vendo televisão, mas ainda não foi dessa vez, preferi zapear entre os canais, para no final assistir o episódio de CSI: Miami na RECORD. Passeando entre os canais até cheguei a ver uma cena na GLOBO, Zezé e um irmão estão numa rodoviária, famintos, começam a cantar e ganham uns trocados. Quando começaram com aquelas vozes esgarniçadas "que saudades da minha terra...", troquei de canal imediatamente.
É preconceito de minha parte? Pode ser, sou humano afinal, porém acho essa explicação preguiçosa. Para começar não montei piquetes nas portas dos cinemas para impedir ninguém de ver o filme, limitei-me a fazer piadinhas. Quando alugaram o DVD para minha mãe não dei chiliques, aliás fui eu que programei o aparelho para que ela assistisse e mais tarde, de novo, dessa vez para os extras. Sem problemas admito que a dupla se mostrou ousada em trabalhar o roteiro no pai, e não eles. Profissional em buscar grandes atores como Ângelo Antônio, Dira Paes e José Dumont. Fugiram de produtores picaretas como Diller Trindade, e nem pegaram um diretor do calibre de um Moacyr Góes, procurando o pessoal da CONSPIRAÇÃO FILMES, que entende do riscado (embora milagres eles ainda não fazem, vide que o novo filme da Xuxa foram assinados por eles, e continua o mesmo lixo).
Em termos de público é um sucesso inquestionável, fez 5 milhões de espectadores no cinema, não corri atrás da audiência, mas não tenho porque duvidar que foi muito bem. Quanto a critérios artísticos, não posso falar por mim, mas muita gente que respeito como os críticos da revista SET, e o sisudo Luís Carlos Merten do ESTADO DE SÃO PAULO, deram seu aval.
Agora acho exagerado dizer que é um dos melhores filmes da retomada do cinema brasileiro. Pelo que percebo é só um bom filme, tecnicamente correto e só. E só mesmo, já temos uma produção consistente o suficiente com boa montagem, ediçao de som, figurinos, cenários, atores, etc. Não chega a ser uma indústria, mas o cinema nacional alcançou um nível aceitável.
Ser um filme tecnicamente correto, é justamente o motivo para que Inácio Araújo da FOLHA DE SÃO PAULO, não se comovesse. Argumenta ele que alcançamos um patamar tal, que é necessário aumentar as exigências. É preconceito de Araújo? Mais uma vez, pode ser, apesar da opinião de Jim Carrey, críticos de cinema também são humanos. Mas aí caímos numa barafunda, basta ter opinião divergente, e nem necessariamente antípoda, para logo taxar alguém de preconceituoso. Candidamente, desejo me considerar apenas um alienado, não me interesso por isso e prefiro continuar ignorante. Sou sim cinéfilo, mas é errônea a idéia que assisto qualquer filme. Impagável é a cara de espanto quanto afirmo que não assisti, nem tenho pretensão de ver coisas como Piratas do Caribe, Transformers, ou Motoqueiro Fantasma. Não me daria a esse luxo se lecionasse sobre cinema, fosse jornalista, ou este blog dedicado a análise cinematográfica.
O leitor pode pensar que menosprezo uma obra artística. Rebato eu que cinema, pode sim ser arte, quando excepcionalmente bem feito, aliado a conjunção histórica única. É um senhor exagero pensar que 2 Filhos de Francisco figura ao lado de Poderoso Chefão , Ladrão de Bicicletas, Acossado, Rashomon, Sétimo Selo. Com exceção do primeiro, todos os outros são triunfos que mudaram o mundo. 2 Filhos... foi a maior bilheteria de 2006, isso é muita coisa, mas não é carta de corso para tudo.
Luciano ficou revoltado quando seu filme foi preterido na escolha para melhor filme estrangeiro no Oscar de 2007. Na época declarou: "onde é que Paradise Now é melhor que 2 Filhos de Francisco". Talvez ele seja preconceituoso quanto a filmes estrangeiros, quem sabe o problema seja com os palestinos. Cantores sertanejos também são humanos.


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