terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Sorte irlandesa.

"Não diria que é o inferno, mas em oito oportunidades eu teria recebido o inferno de bom grado. Fui alvejado por morteiros, fuzis e metralhadoras. Nunca me atiraram uma granada de mão, mas uma granada de fuzil explodiu bem perto. Ter saído de toda aquela confusão sendo só atingido um morteiro e uma bala de metralhadora, como dizem os irlandeses, foi muita sorte".

O trecho acima é de de Ernest Hemingway (escritor americano, 1899-1961), escrito num hospital militar italiano em 1918, endereçado à família ( Hemingway serviu como voluntário na 1ª Guerra Mundial).
Cartas do front da 1ª Guerra mundial são a grande idéia do blog WW1 (infelizmente, somente em inglês). Os posts são as correspondências de um soldado inglês, William Henry (Harry) Bonser Lamin, atualizadas na medida que ele próprio escreveu exatos 90 anos. Harry Lamin escreveu aos seus irmãos mais velhos, no dia 30 de Dezembro e 1917, donde estava locado, na Itália. Talvez não haja mais cartas, não é informado se Lamin voltou para casa ao final, ou morreu durante os confrontos.
O real responsável pelo blog garante a veracidade das cartas. Conhecendo as coisas do mundo, e da internet, é possível que tudo não passe duma armação. Não importa, é muito interessante e bem feito.
A 1ª Guerra que seria aquela que acabaria com todas as outras, foi na verdade o semeadouro dos principais conflitos o século XX. Começou reacendendo as tensões milenares das diferentes etnias do Balcãs, até então amainadas dentro do Império Áustrio-Hungaro, arrastadas até os anos 90 do século passado com a Guerra da Iuguslávia, e ainda hoje com um receio palpável de novos problemas com a decisão de Kosovo declarar independência da Sérvia . Durante o conflito aconteceu a Revolução Russa, que dividiria o mundo no xadrez geopolítico da Guerra Fria. E claro com os humilhante termos de rendição da Alemanha, propiciaram o caldo político que levaria Adolf Hitler a chancelaria.
Em seu livro, Uma História da Guerra (Companhia das Letras, edição de bolso R$29,00), o historiador militar inglês John Keegan fala que o uso pela primeira vez de à época, novas armas como a metralhadora, tanque, avião, gás mostarda, sarin, cloro, elevaram a mortandade em batalhas que geralmente beirava a 20% das companhias, para até 85%. O Exército francês teve que aposentar seu tradicional uniforme por outro de cores mais sóbrias, o azul, vermelho e branco tornava os soldados alvo fácil, para os agora eficientes e mortais fuzis de assalto.
Até então cada geração das famílias européias sempre havia algum membro que era veterano de guerra. No início dos anos 1920 cada família européia tinha um alguém que morreu na guerra.

Foto de Harry Lamin

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