sábado, 5 de janeiro de 2008

Não vi e não gostei (ainda que seja bom), ou um panegírico da alienação

Galdino, um grande amigo, infelizmente falecido, tinha uma ótima troça sobre 2 Filhos de Francisco, a cine-biografia de Zezé de Camargo e Luciano: "Existem duas coisas decepcionantes em 2 Filhos..., uma é o própria fato do filme existir, a outra é que o filme é realmente bom". Quanto a mim, não assisti quando estava em cartaz nos cinemas. Nem quando lançaram em DVD, embora a pedido de minha mãe, minha irmã tenha alugado o disco. Houve até uma situação pitoresca, num final de semana, tinha pego uma batelada de filmes, incluindo Zaitochi (de Takeshi Kitano), Conflitos Internos (série policial de Honk Kong, donde se baseou Os Infiltrados), e não é que o atendente se enganou e em lugar de Hotel Ruanda pôs 2 Filhos...., quando notei o engano a locadora já estava fechada, na manhã seguinte, logo cedo fui trocar.
Não tenho TV por assinatura, portanto não vi quando exibido no TELECINE. Agora na última terça passou em rede aberta, na hora estava em casa e vendo televisão, mas ainda não foi dessa vez, preferi zapear entre os canais, para no final assistir o episódio de CSI: Miami na RECORD. Passeando entre os canais até cheguei a ver uma cena na GLOBO, Zezé e um irmão estão numa rodoviária, famintos, começam a cantar e ganham uns trocados. Quando começaram com aquelas vozes esgarniçadas "que saudades da minha terra...", troquei de canal imediatamente.
É preconceito de minha parte? Pode ser, sou humano afinal, porém acho essa explicação preguiçosa. Para começar não montei piquetes nas portas dos cinemas para impedir ninguém de ver o filme, limitei-me a fazer piadinhas. Quando alugaram o DVD para minha mãe não dei chiliques, aliás fui eu que programei o aparelho para que ela assistisse e mais tarde, de novo, dessa vez para os extras. Sem problemas admito que a dupla se mostrou ousada em trabalhar o roteiro no pai, e não eles. Profissional em buscar grandes atores como Ângelo Antônio, Dira Paes e José Dumont. Fugiram de produtores picaretas como Diller Trindade, e nem pegaram um diretor do calibre de um Moacyr Góes, procurando o pessoal da CONSPIRAÇÃO FILMES, que entende do riscado (embora milagres eles ainda não fazem, vide que o novo filme da Xuxa foram assinados por eles, e continua o mesmo lixo).
Em termos de público é um sucesso inquestionável, fez 5 milhões de espectadores no cinema, não corri atrás da audiência, mas não tenho porque duvidar que foi muito bem. Quanto a critérios artísticos, não posso falar por mim, mas muita gente que respeito como os críticos da revista SET, e o sisudo Luís Carlos Merten do ESTADO DE SÃO PAULO, deram seu aval.
Agora acho exagerado dizer que é um dos melhores filmes da retomada do cinema brasileiro. Pelo que percebo é só um bom filme, tecnicamente correto e só. E só mesmo, já temos uma produção consistente o suficiente com boa montagem, ediçao de som, figurinos, cenários, atores, etc. Não chega a ser uma indústria, mas o cinema nacional alcançou um nível aceitável.
Ser um filme tecnicamente correto, é justamente o motivo para que Inácio Araújo da FOLHA DE SÃO PAULO, não se comovesse. Argumenta ele que alcançamos um patamar tal, que é necessário aumentar as exigências. É preconceito de Araújo? Mais uma vez, pode ser, apesar da opinião de Jim Carrey, críticos de cinema também são humanos. Mas aí caímos numa barafunda, basta ter opinião divergente, e nem necessariamente antípoda, para logo taxar alguém de preconceituoso. Candidamente, desejo me considerar apenas um alienado, não me interesso por isso e prefiro continuar ignorante. Sou sim cinéfilo, mas é errônea a idéia que assisto qualquer filme. Impagável é a cara de espanto quanto afirmo que não assisti, nem tenho pretensão de ver coisas como Piratas do Caribe, Transformers, ou Motoqueiro Fantasma. Não me daria a esse luxo se lecionasse sobre cinema, fosse jornalista, ou este blog dedicado a análise cinematográfica.
O leitor pode pensar que menosprezo uma obra artística. Rebato eu que cinema, pode sim ser arte, quando excepcionalmente bem feito, aliado a conjunção histórica única. É um senhor exagero pensar que 2 Filhos de Francisco figura ao lado de Poderoso Chefão , Ladrão de Bicicletas, Acossado, Rashomon, Sétimo Selo. Com exceção do primeiro, todos os outros são triunfos que mudaram o mundo. 2 Filhos... foi a maior bilheteria de 2006, isso é muita coisa, mas não é carta de corso para tudo.
Luciano ficou revoltado quando seu filme foi preterido na escolha para melhor filme estrangeiro no Oscar de 2007. Na época declarou: "onde é que Paradise Now é melhor que 2 Filhos de Francisco". Talvez ele seja preconceituoso quanto a filmes estrangeiros, quem sabe o problema seja com os palestinos. Cantores sertanejos também são humanos.


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