sábado, 19 de janeiro de 2008

Estendendo o assunto



O post anterior me deu a idéia de reunir algumas histórias de Alfred Hitchcock. O diretor não apenas nos legou clássicos do cinema, mas vários casos pitorescos para além do "atores são gado". Eis os que considero mais divertidos ou curiosos.
  • Atores davam muita dor de cabeça a Hitchcock (Janet Leigh ficou menstruada quando foi filmar a cena da banheira em Psicose o que atrapalhou o cronograma em uma semana), talvez explique a frase atribuída à ele de que atores são gado. A vida toda negou, tentou se corrigir dizendo: "O que eu disse é atores devem ser tratados gado (muito gente ficou ofendida, como Orson Welles, mas em sua defesa James Stewart declarou: "Então ele é o maior cowboy que conheço).
  • Outra sobre atores: "Tenho inveja de Walt Disney. Quando não gosta de um ator, simplesmente o apaga"
  • "Nenhum diretor é melhor que seu roteiro", "Eu apenas rodo um roteiro pré-montado. Poderia ter dirigido Disque M para Matar pelo telefone", "Não me interesso pela temática, ou pelo ato de encenar, mas pela seqüência de um filme. Ou melhor pelos ingredientes técnicos que possam fazer uma platéia inteira gritar", Hitchcock chegava a dormir no set (outra frase de James Stewart, "Com Hitch, havia apenas um jeito de fazer a cena - o dele).
  • Nos sets de Quando fala o coração, Ingrid Bergman pediu para discutir o personagem e ele disse: "Está no roteiro". "Mas qual é minha motivação?" "Seu salário". Em outra ocasião ela insistiu: "Eu não me sinto como o personagem", alegou. "Então simplesmente finja".
  • Paul Newman em Cortina Rasgada que desenvolveu um método de interpretação, teve como resposta: "Faça o que quiser. Há sempre a sala de edição" (de Kim Novak, estrela de Um Corpo que Cai, "Quando ele está gostando do seu trabalho, não fala nada; e se não gosta continua mudo, só que te olha com aquela cara de quem está prestes a vomitar).
  • Durante um teste uma atriz iniciante perguntou qual era seu melhor perfil. "Você está sentada em cima dele", retrucou.
  • "Não gosto do objeto sexual óbvio, tipo Marilyn Monroe e Jean Harlow, que tem sexo escrito na testa", "Se eu fizesse um filme com Monroe, ela teria que começar como uma freira" (preferia mulheres de aparência clássica como Grace Kelly, a quem, como muito de suas estrelas, impunha fazer um strip-tease diante uma janela, enquanto ele a observava de binóculo numa casa em frente).
  • "Não quero que meus filmes sejam pedaços da vida, prefiro que sejam vistos como deliciosos pedaços de bolo de chocolate".
  • Claro que para isto deviam respeitar uma regra: "A duração de um filme deve estar diretamente relacionada a capacidade de tolerância da bexiga humana".
  • Até sua morte em 1980, carregou a mágoa por nunca ter ganho um Oscar (concorreu cinco vezes por: Rebecca, Um barco e nove destinos, Quando fala o coração, Janela Indiscreta e Psicose): "Meus filmes passam de fracasso a obras-primas , sem chegar a ser sucessos", um exagero, quase todos seus filmes eram campeões de bilheteria, só Psicose, rendeu-lhe 15 milhões de dólares, no primeiro ano, se isso ainda hoje é muito dinheiro, pense o quanto seria em 1960.
  • "Fui educado pelos padres, com eles aprendi o medo", e também com o pai, o pequeno Alfred então com 4 anos fez alguma peraltice, seu pai lhe mandou à delegacia com um bilhete na mão. O policial olhou para ele com um ohar sinistro e o trancou numa cela. "É isso que fazemos com meninos levados!", ouviu. Fiquei lá por cinco minutos o suficiente para ter pavor de guardas até hoje".
  • Ele gostava de inventar um pretexto e ligar para pessoas que não o conheciam, como jovens escritores e roteiristas, e se anunciar: "Aqui fala Alfred Hitchcock" - apenas para saborear os segundos de hesitação (ou de suspense) do outro lado da linha, sabendo que a outra pessoa não acreditaria de saída que fosse o próprio.
Para fechar, uma cena doméstica: certa noite encontrou a esposa Alma (sério esse era o nome de sua mulher), fazendo o jantar. "Preparava um suflê e Hitch bateu as claras para mim". "ele observou como misturei o queijo, e coloquei o pirex, delicadamente, no forno. Quando liguei o cronômetro, percebi que meu marido não tirava os olhos do forno.". "aqui está o drama", cochichou ele. "O que está acontecendo atrás daquela porta?". Finalmente o relógio tocou. "O suflê estava perfeito - e meu marido uma ruína". "Nada mais de suflês", anunciou Hitchcock, "até que tenhamos um forno com porta de vidro."

As informações, citações e dados acima foram extraídos do artigo O diretor que sabia demais, de Suzana Uchôa Itiberê para revista SET, edição 127 - Ano 12, de janeiro de 1998; e do livro Saudades do Século XX, de Ruy Castro, editado pela Companhia das Letras, em 1994.

Um comentário:

Anônimo disse...

Hitchcock era mesmo genial.
Ah, se não me engano a sua esposa Alma além de dividir a cama com o mestre ainda trabalhava com ele na sua equipe técnica. 'Taí um caso de nepotismo que deu certo, hehehe!