segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Olhando pelo avesso.

Analiso prêmios de maneira reversa, para mim não são eles que transferem credibilidade a seus escolhidos, sendo justamente os laureados quem lhes conferem relevância. O melhor exemplo disso foi o OSCAR do ano passado. Após cinco indicações ao troféu de melhor diretor, finalmente Martin Scorcese ganhou por Os Infiltrados. Quem saiu consagrado com isso não foi Scorcese, que pode ser considerado o maior diretor americano vivo, mas a Academia de Artes Cinematográficas Americana. Abomino a idéia de uma suposta retificação/consolação por todas as vezes que foi preterido (inacreditável em 1991, quando perdeu para Kevin Costner por Dança com Lobos, no ano que concorria, perdoa-os Senhor, Os Bons Companheiros) . Os Infiltrados é um filmaço, embora por essa ironias da vida, esteja num patamar abaixo d'Os Bons Companheiros (citado antes); e óbvio, Touro Indomável.
Sempre que penso no GRAMMY lembro de uma gag do desenho d'Os Simpsons, toda Springfield esta reunida no teatro da cidade para uma premiação da comunidade, TODOS os cidadãos são agraciados por algum prêmio porque se inventou centenas de categorias para que não se deixasse ninguém de fora, com exceção de um, Homer. Num dado momento, Homer se queixa para Marge que nunca ganhou nada na vida, a esposa lembra que ele ganhou um GRAMMY (tem um episódio que junto com sua equipe de boliche, Homer funda um grupo vocal, compõe uma canção one-hit-wonder, ganha o prêmio, e logo se separam pela briga de egos). Homer dispara: "o GRAMMY é um prêmio sem valor", quando ainda está se recuperando da piada, a imagem congela e vem uma voz grave: "Os produtores de Simpsons querem deixar claro que não concordam com a opinião de Homer [breve pausa], não chegamos a considerar o GRAMMY um prêmio.
Existem inacreditáveis 110 categorias, e outras tantas para a versão latina. Tão surpreendente quanto quem nunca ganhou, Led Zeppelin, Bob Marley; não é nem quem ganhou, Barack Obama neste ano pelo audiobook de sua biografia, anos antes Hillary Clinton também por um audiobook de um livro para crianças. É quem concorrendo deixou de ganhar, um site estrangeiro listou as maiores comidas de bola, veja as bizarrices, e se indigne comigo.
  • Em 1992, quando o Nirvana ofuscava tudo a seu redor, "Smells Like Teen Spirit" perdeu para a versão acústica de "Layla" (de Eric Clapton) o troféu de melhor canção de rock
  • Em 2000, com "Kid A" (do Radiohead) e "The Marshall Mathers LP" (do Eminem) na disputa por melhor disco do ano, deu Steely Dan (com "Two Against Nature")
  • O lendário Public Enemy perdeu duas vezes para a cafonice de Will Smith (sob a forma de Jazzy Jeff And The Fresh Prince): em 1988 - só o ano em que o PE lançou "It Takes a Nation of Millions To Hold Us Back" - e em 1991
  • Concorrendo com Frank Sinatra, Billy Joel, Barbra Streisand e Pink Floyd por melhor álbum de 1980, Christopher Cross (Quem???????? O da música-tema de "Arthur, o Milionário Sedutor") levou.
  • Em 1988, com a banda tinindo nos cascos, o Metallica perdeu o troféu de melhor performance de metal para o Jethro Tull e sua flauta!
Na 50ª edição apresentada ontem, limpou um pouco a barra, a dar cinco gramofones, dos seis em que foi indicada, à cantora inglesa Amy Winehouse, inclusos o de canção do ano, a maravilhosa Rehab, e melhor álbum pop, Back in Black (só não levou por disco do ano, River: The Joni Letters de Herbie Hancock, foi o agraciado).
Rehab é uma tapa com luvas de pelica no politicamente coreto, ao dramatizar uma discussão da cantora com seu empresário. O sujeito queira interná-la numa clínica de reabilitação para melhor a imagem dela, se ajudasse a largar o vício em substâncias ilícitas também seria bom, mas não era o foco principal. O que ela fez? Bateu o pé e se recusou.
Mas a música não tem nada em comum com essa penca de lixo etílica-escrota que tanto viceja no funk carioca ou em grupos de forró. Não com versos assim, Yes I been black but when I come back you'll know, know know/ I ain’t got the time/ And if my daddy thinks I’m fine (...) I ain’t got seventy days/ Cos there’s nothing, nothing you can teach me (...) I don’t ever want to drink again/ I just, ooh I just need a friend/ I’m not gonna spend ten weeks/ And have everyone think I'm on the mend.
Ao contrário da escória que faz elegia da bebedeira, ela sabe que tem um problema, mas o que precisa mesmo é de apoio, um amigo. E desesperadamente, dado a quantidade de problemas e contragimentos que vem passando, flagada com maconha e cocaína pela polícia no aeroporto, fotografada só de sutiã e jeans na fria noite de Londres flagantemente bêbada, divulgação de um vídeo onde supostamente consome crack.
Seus excessos tem algo de anedótico (ela não pôde ir aos Estados Unidos, por que não teve o visto liberado a tempo), Numa premiação do British Awards, enquanto Bono fazia uma perolação sobre os famintos na África, ela estava aos berros "shut up, fuck". Pode parecer engraçado, mas devemos resistir na transformação em algo palatável do circo montado na exibição de alguém se auto-destruindo. O que torna ainda mais triste é que, ao contrário de digamos Britney Spears, Amy Winehouse é uma senhora cantora, Rehab é ótima mas minhas faixas favoritas são as espetaculares You know I'm no good e Love is a losing game.
Faço votos sinceros que Winehouse mantenha as coisas na ordem certa. Sempre nos lembrando, que não é favor reconhecê-la como a grande cantora que é.
Veja a performance dela, num estúdio em Londres, para o GRAMMY.

E a surpresa em levar "a música do ano" (Comentário meu: surpresa pode ser, imerecido nunca)


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Now playing: Amy Winehouse - Addicted
via FoxyTunes

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