quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Observações numa quarta-feira de cinzas

Carnaval me faz pensar em Schopenhauer. Isso deve ter soado esnobe. Tenho essa fama, não exatamente imerecida, mas um tanto exagerada. Voltando, carnaval me lembra um aforisma do filósofo alemão que diz, "há no mundo apenas a escolha entre a solidão e a vulgaridade". Este deve ser o sétimo ano em que toda a família viaja no período momino e fico só em casa.
Não tenho problemas em ficar sozinho, genuinamente não gosto de agitação, multidões, considero axé uma música deplorável (prefiro não comentar a dança do créu), e não tenho mais 6 anos para achar graça em marchinhas de carnaval. Preferi nestes períodos ouvir muito Cocteau Twins, Amy Winehouse, Flaming Lips e Feist a todo volume, algumas extravagâncias como acordar ao meio-dia, e uma leitura aprazível, Stalin Desconhecido de Zhores e Roy Medvedev (Ed. Record, R$ 54,90).
Claro que chega momentos que quero ficar à toa, caminho um pouco, dou uma olhada nos cachorros, faço uma boquinha, e vejo televisão. Neste último geralmente para me aborrecer, já que como no Natal as pautas são monotemáticas. Sendo que o Natal tem muito mais facetas a explorar: alegria, penintência, reflexão, tristeza, generosidade, esperança; carnaval não, se martela todo tempo em alegria, festa. Tudo por uma monstrusa preguiça das produções dos programas e jornais. O mesmo lugar-comum que vende a idéia que no final de semana não acontece nada. E tome programas de auditório, e jornais noticiando ursos coalas tomando sorvete para aplacar o calor.
Não sei se só eu penso assim, mas para quê transmitir shows e desfiles de escolas de samba pela TV, quem fica em casa neste período é porque gostaria de ter outra opção, caso contrário estaria na rua brincando. O SBT foi minha salvação nessas noites, resolveu exibir os ótimos Um Sonho de Liberdade na sexta e O Senhor dos Anéis - As Duas Torres no sábado programa bem melhor que ouvir Maurício Kubrusly falando abrobrinhas como: "O carnaval é a prova de que é possível falar sem palavras", ou ainda as dezenas de vezes que Chico Pinheiro e Renata Ceribelli soltaram "Olha aí que bonita a arquibancada", "Essa energia toda", "Olha que bonita a escola", "Olha que imagem bonita", "Olha que luxo essa fantasia", "Olha que alegria", "Olha aí a emoção...", "Olha a beleza desse casal de mestre-sala e porta-bandeira", "O sambódromo é um tapete de alegria".
Coisas assim só valem pelo humor involuntário, mas quem leva o prêmio no festival de bestialidades é Nayara Gusmão, do programa Tarde Livre da TV DIÁRIO. Uma pobre-coitada que tem a elaborada função de ler num notebook as fofocas dos celebrities (uiiiii!), fazendo um abalizado comentário. Falando com a apresentadora do programa, Natália Varela se os ditos famosos aproveitavam o carnaval para comer de tudo. Fiquei imaginando que no resto do ano eles só se alimentam com aquela gosma que o Robocop come.
Depois ela disse: "essas são as operações que as pessoas pedem aos cirugião (sic)".
"O nariz da Catarina."
Conhece alguma Catarina famosa, vai ver não é Catarina e sim Katarina, nada ainda? Mostraram uma foto, mas como seria demais pedir que uma emissora ralé como a TV DIÁRIO tivesse uma banco de imagens decente, a foto era tirada da internet, e tinha uma baixa resolução. Estou chutando que era a Kate Hudson de Quase Famosos, mas não dá para ter certeza.
"As maçãs da atriz americana Kira."
Talvez fosse mas fácil se Nayara Gusmão dissesse os sobrenomes das pessoas. Mostraram uma foto da "atriz americana Kira", só estão corretos que a moça é atriz e que suas maçãs dos rosto são muito bonitas. Keira Knightley nasceu na Inglaterra, e pelo que sei ainda mora lá.
"A boca de Renê Zena."
Renê Zena???? Parece nome de coadjuvante e novela mexicana. Dessa vez ela deu uma dica.
"A atriz de Britney (sic) Jones"
Ahhh, Renée Zellweger, atriz de Bridget Jones.
Para mim já é demais, é melhor voltar para o livro, e ler sobre o assassinato de Bukharin.

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