domingo, 23 de agosto de 2009

Hors Concours


É estranho, não estão entre aqueles que considero os melhores filmes já feitos, e nem sequer numa lista (Top 5? Com certeza não, talvez num 50) dos meus favoritos. Contundo tenho uma relação especial com as adaptações dos livros do inglês Nick Hornby Um Grande Garoto (About a Boy, 2002) e Alta Fidelidade (High Fidelity, 2000).
Para ser sincero nunca me identifiquei tanto com um personagem quanto com o "garoto adulto" Marcus (Nicholas Hoult); o verdadeiro protagonista, não o "adulto garoto" Will, papel de Hugh Grant. Resumindo: Will é um sacana que graças à herança de direitos autorais de músicas do pai usa seu tempo da mais maneira frívola imaginável, um dia percebe que as mulheres mais vulneráveis são as divorciadas e com filhos; Marcus descobre isto, só que ainda assim empurra a mãe para o sujeito, porque pateticamente é o único adulto, além do pai ausente que conhece. Não se vê muitas comédias românticas tão naturalmente bem escritas e sem ser baixo astral, falar de temas pesados como solidão, incapacidade de levar uma vida social, tristeza, suicídio. Na metade Marcus nos dá a melhor definição de amor já feita em celulóide, "I wanna be with her more, I wanna be with her all the time, and I wanna tell her things I don't even tell you or mum. And I don't want her to have another boyfriend. I suppose if I could have all those things, I wouldn't really mind if I touched her or not".
Veja aqui uma cena:



Alta Fidelidade é mais simples, Rob Gordon (John Cusack) leva um fora da namorada. Ela é uma advogada que está subindo na carreira, ele um coitado na bancarrota, dono de uma loja de LP's de vinil (você pode medir a seriedade de qualquer articulista cultural pela maneira como aborda a "volta triunfante do vinil", se insistir nesta cascata, deixe o cara falando ou escrevendo para outros pobres perdidos). É o gatilho para rememorar os cinco maiores foras que levou da vida, as cinco melhores faixas de aberturas dos discos, as cinco quaisquer mais coisas que o momento suscitar.
Desta vez tenho em comum o mesmo olhar ou a falta dele de Rob sobre a vida, amor e música. A frase de abertura é genial: "O que veio primeiro? A música ou a tristeza? Todos preocupados com crianças com armas, ou vendo filmes violentos, e toda espécie de cultura da violência, que os cerca. Ninguém parece preocupado com garotos ouvindo milhares, verdadeiramente milhares de músicas sobre separações, rejeição, dor, tristeza e perda. Eu ouço pop music porque estou triste ou sou tristre porque ouço pop music?", um dilema shakesperiano.
Pausa para um top 5 de músicas para este post (criteriosamente não utilizo nenhuma música das trilhas sonoras dos filmes). Do quinto para o primeiro:











O fecho de ouro é o diretor Stephen Frears, seja lá o que faça não consigo achar ruim seu trabalho, e para minha sorte ele tem colaborado: Minha Adorável Lavanderia (My Beautiful Laundrette, 1985), Ligações Perigosas (Dangerous Liaisons, 1988), Os Imorais (The Grifters,1990) (primeira parceiria com Cusack), Coisas Belas e Sujas (Dirty Pretty Things, 2002) e A Rainha (The Queen, 2006); ou os obscuros, modestos e controversos Heroi por Acidente (Hero, 1992), A Grande Família (The Snapper, 1993), Terra das Paixões (The Hi-Lo Country, 1998) e A Van (The Van, 1996).
Para quem chegou até aqui dois mimos. O primeiro tem que ser resgatado até a madrugada deste domingo para segunda, Alta Fidelidade será exibido na Sessão de Gala da REDE GLOBO. O outro é uma rara confidência pessoal do signatário. Há duas cenas que aconteceram muito semelhantes comigo. Para bem ou para o mal, nenhuma delas com Catherine Zeta-Jones (veja o filme, e veja que não estou sendo irônico aqui); para quem estiver disposto à caçada são dois diálogos, um de Rob com Ian "Ray" Raymond (Tim Robbins), o seguinte com Laura (Iben Hjejle).
Não estou envergonhado com esta confissão, com certeza você meu caro leitor também tem as suas.
Despeço-me com este trecho, ouça estas palavras de sabedoria:


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