segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Confissões de uma mente ociosa

Passei a noite de sábado insone. Lá pelas 4 da manhã tive uma surpresa, a GLOBO passou Futurama. No episódio, Fry é o único ser que pode salvar o universo da destruição total por um bando de cérebros voadores gigantes. E porque ele é tão especial? Por ser tão estúpido, que é ignorado pelos os tais cérebros que só esperam concluir o scanneamento de todas as formas de vida e explodir toda a criação. Perdão, não sabe do que estou falando, Futurama é um desenho animado, onde o tal Fry é um entregador de pizzas que acidentalmente é congelado no ano 2000, e reanimado no século XXI. Infelizmente só duraram quatro temporadas, mesmo tendo um personagem antológico como Bender, um robô sacana, cleptomaníaco, alcoólatra e fumante inveterado. Provavelmente o único ponto baixo, é que seu criador, Matt Groening, tenha feito antes Simpsons. Futurama é apenas um dos desenhos mais engraçados de todos os tempos, já os Simpsons, um marco da cultura pop, e o público é implacável.

Ainda antes, exibiram Uma Família da Pesada, outra excelente animação, na melhor piada, Peter Griffin está em negação, incomodado por seus exames revelaram que está obscenamente gordo. Brian, o cachorro da família (que não só fala, como é o mais sensato da família), joga então uma maçã ao redor de Griffin e ela começa circulá-lo. Brian então explica que ele está tão gordo que tem uma força gravitacional criando órbita em torno dele.

Quando enfim fui dormir deu-me um sentimento de frustração, porque diabos num horário tão ingrato? Ok, desenhos que ridicularizam pessoas com problemas mentais, obesos, homossexuais, com um bebê que planeja assassinar a mãe, não é o tipo de coisa que se esperaria mesmo às 20h00min, mas enquanto depois de Zorra Total? Digo isso porque alguns anos atrás a RECORD passava esses mesmos desenhos juntos no sábado nessa hora.

O que me enerva é que Altas Horas, programa de Serginho Groisman, que não só passa no mesmo dia e antes da séries, tem o mote de: vida inteligente na madrugada. Quando Groisman chegou a GLOBO, a idéia do programa era ser ao vivo com uma espécie de jam session, em que músicos depois de seus shows se reuniriam e bateriam papo, com debates com a platéia. Nada disso aconteceu, na verdade, tal como Jô Soares, o programa piorou em comparação com o que tinha no SBT. O livre acesso ao elenco da GLOBO, prestando-se como alavanca da programação, tornaram as pautas preguiçosas, não apenas óbvias, mas burras até. O quadro de dublagem é uma bobagem, aquele em que os convidados trazem objetos, pode parecer simpático, mas é totalmente descartável. E parece que sempre no final ele traz aquele pobre coitado do cabo-man, que ele não se digna em dizer o nome, só o apelido: seu Madruga. O sujeito surge com uma cara de choro, diz mensagens que até mesmo Paulo Coelho se envergonharia. Das duas, uma; ou o cara esta fingindo, e devia parar com isso, ou realmente ele desaba e chora compulsivamente sempre que é chamado. Aí mesmo que deviam parar com isso porque ele precisa de tratamento psiquiátrico. Fundo do poço foi quando começou a fazer pegadinhas como a da Leilah Moreno, vocalista da banda do programa, dizendo que a demitiria, ou quando pediu aulas de surf a Cauã Reymond, e as insuportáveis “não é foto, é vídeo”. Falta pouco e teremos um novo quadro “O táxi do Serginho”.

Surpreendente é Groisman ridicularizar o público jovem, logo esse que dizem que tem grande empatia. Vejamos o quadro Púlpito, o sujeito vai lá esbraveja qualquer coisa por 15 segundos, dá um soco, e aí... Aí nada, o cara termina, e volta para seu canto. Quando é escolhido alguém para conversar, começa bizantinas discursões sobre: o que é uma tatuagem tribal? Há quanto tempo você consegue mastigar esse chiclete? Anteriormente infiltraram um ator na platéia (formado por uma organização não-governamental, fato irrelevante mas sempre mencionado), que deveria fazer perguntas “inconvenientes” aos convidados. Para Wanessa Camargo perguntou sobre se ela só fazia sucesso por causa do pai e tio famosos. Na vez que tocava a banda Capital Inicial acompanhada de Dado Villa Lobos, cantou debochado Será, da Legião Urbana, dizendo que a letra é banal, pedindo que tocasse outra “melhorzinha”. Wanessa ficou encabulada, Dado exaltado, falava para o cidadão ir embora se não gostava da música. Dinho Ouro Preto começou o discurso que você pode não gostar do som, e tudo bem, mas tem que respeitar os que gostam, e blábláblá...

Vamos lá: será que estou sendo maldoso ou Wanessa Camargo, é realmente essa cantora consagrada, sem nada mais a provar, campeã de vendagens e execuções no rádio? Dinho Ouro Preto saiu-se com o discurso de roqueiro bunda que é, não defendendo uma atitude punk de faca na bota e partir para a porrada, também seria demais esperar uma resposta frankzappiana, mas Ouro-Preto podia ter um pouco mais de colhões. Já para Dado, faltou bom-humor, podia cantar então Monte Castelo, que tem além de Renato Russo como “co-autores”, São Paulo apóstolo e Luiz Vaz de Camões. Se essa trinca não sabe escrever, então não sei mais nada. O que evidencio é que podem ser incômodas, mas não tem porque não ser feitas. Insisto que o convidado só tem que defender seu ponto de vista, sem estrilar. Esse engodo, na verdade marginaliza que tem uma postura contestadora. Seria ótimo que logo em seguida alguém engatasse a mesma pergunta e insistisse que era a sério. Pena, o jeito é se conformar com perguntas do calibre de: o que você mais gosta de fazer TV, cinema ou teatro? Qual sua música favorita? Quando vai posar nua?

O mais louco é que tem muita coisa boa na madrugada. O SBT já passou Shortcurts, de Robert Altman, Laranja Mecânica e O Iluminado de Stanley Kubrick, O Informante de Michael Mann. A GLOBO além dos supracitados Futurama e Uma Família da Pesada, tem a Sessão de Gala com Kagemusha, à sombra de um guerreiro de Akira Kurosawa, Coisas Belas e Sujas de Stephen Frears, Eleição de Alexander Payne, As Virgens Suicidas de Sofia Coppola, e por aí vai.

O que me deprime é: porque na madrugada, porque não no horário nobre, ou melhor em qualquer horário. Será que é isso mesmo? A audiência é tão estúpida que não entenderia um programa como O Sistema? Ou Sílvio Santos está certo em substituir na madrugada séries como West Wing, Nip/Tuck, Médium, Sobrenatural, para no horário transmitir Fantasia?

Um comentário:

Márcio Aguiar disse...

É a miséria humana, meu caro amigo!

Ou será que esse "mondo cane", que insiste em debochar das poucas mentes lúcidas que sobreviveram ao holocausto da globestialização, é privilégio da nossa terra?

O jeito é fundarmos nosso próprio país! hehehehe